História da Ciência, o que Estudar? Parte 2. Alquimistas Célebres, e seu Trabalho.


Imagem, Representando o Azoth.
Figura de uma Obra do Alquimista Alemão Basile Valentin, Representando o Azoth e sua Preparação: Fonte da Imagem  Colorizada: Copyright de Adam McLean, 1997-2011. Imagem  Reproduzida do Alchemy Web Site, Adam Mc Lean.

Autoria: Alberto Federman Neto, AFNTECH.

Revisto e Ampliado em 9 de Setembro de 2020.

Neste segundo Artigo, continuamos com nossa série, sugerindo temas para estudo em História da Ciência, mais precisamente História da Alquimia, um dos meus interesses.

Veja as Partes I  e III, desta série. Veremos que a Alquimia foi importante para o desenvolvimento da Química.

No começo, Alquimia, Filosofia e Religião são bem interligados, mas irão separar-se bastante depois. GREGORY, F. (1995). Neste link, vários livros sobre a História da Alquimia e sua transição para a Química.

Vamos estudar e falar sobre alguns Alquimistas Famosos, sua História, e seu fabuloso trabalho, rumo à Química.

1. DEFINIÇÕES.

Para que o Leitor possa entender, não é fácil falarmos de alguns desses Alquimistas e Químicos antigos sem citar termos e definições que eles usavam, mesmo agora elas são obsoletas e mesmo, totalmente desconhecidas do leigo, do não versado em História da Ciência.

Azoth.

Um termo em Latim Medieval, que vem da Alquimia Árabe: “Al-zā’būq“, que significa “Azougue”, um antigo nome do metal líquido mercúrio. Com esse nome, o mercúrio ainda é usado em rituais de Magia.

O Estudioso Ocultista e Cabalista Francês Éliphas Lévi (Alphonse Louis Constantestudou e citou o Azoth.

The Essence of Divination, that is to say, the Magical Arcanum, is represented by all symbols of the Science, and is intimately connected with the Doctrine of Hermes. In Physics, the composition, decomposition, recomposition, realisation and adaptation of the Philosophical Mercury, called Azoth by the Alchemists.

Tradução Livre:

A parte essencial do Divino, devo dizer, é o Arcano Mágico, representado por todos os símbolos da Ciência, e intimamente ligado à Doutrina do Hermetismo. Na Física, a composição, decomposição, recomposição, realização e adaptação do Mercúrio Filosófico, chamado de Azoth pelos Alquimistas.

LÉVI, E. “Dogma et Rituel de Haute Magie.” Editora Martinet, Paris, França (1861). E-Book em Português, Várias edições, Livro, exemplar pertencente ao Autor deste Blog: LÉVI, E. “Dogma e Ritual de Alta Magia.Biblioteca Planeta, Editora Três, São Paulo 2 vols. (1973). LÉVI, E.; WAITE, A.E (tradutor) “Transcedental Magic. It’s Doctrine and Ritual.” Editor George Redway, Londres, Inglaterra,  161 (1896):

O Azoth era considerado um princípio fundamental, uma espécie de solvente universal que ia amalgamar os outros elementos, para formar a Pedra Filosofal, capaz de transformar metais comuns em ouro ou prata. O princípio vital dos metais. Também era tido como um remédio universal, para curar doenças. HAUCK, D.W. (2020).

Para os Alquimistas, o Azoth não era o mercúrio normal, mas era extraído dele. Tratando o mercúrio pelo fogo, destilando-o várias vezes. link 6.

Ele combinaria o Espírito Vital, com a Matéria grosseira, melhorando o “Corpo” (substância química) com a qual se trabalhava. Ele uniria as partes do “Corpo”, os Elementos, quanto mais partes e mais unidas, melhor seria o resultado. É uma energia, um princípio de melhoria ou de transformação.

O conceito do Azoth é muito antigo. Ele aparece entre os Alquimistas Árabes, Link 12. Os Cabalistas  Link 4, e os   Alquimistas Europeus. Link 1. Link 2.   3.  Na Índia e Egito, também. A validade dele se estenderia praticamente, até a  época da Química Moderna.

Basta lembrar que Francis Bacon (já um experimentalista , o “Pai do Método Científico”)  ainda tenta  combinar Enxofre e Mercúrio, Links 5 e 92 , para obter Ouro. BACON, F. LASSALES, A. (tradutor). “Ouvres de François Bacon.” Editora:  L. N. Frantin, Dijon, França, Vol. 4 (1799). Tentava provar as Teorias de Geber (Item 3).

Mesmo um dos “Pais da Química Moderna”, Robert Boyle, tentou “multiplicar” ouro, partindo de mercúrio e uma pequena quantidade de ouro. O Experimento foi repetido por Lawrence Principe, um professor de  e História da Ciência, Link 7, da Universidade John HopkinsWOLF, A. (2011). O que ocorre é que forma-se um amálgama de ouro, e este cristaliza.

Amalgama de Ouro.
Reprodução de um Experimento de Robert Boyle. Tentava Multiplicar Ouro, a Partir de Mercúrio. Fonte da Imagem: Larry Principe e Lauren Wolf.

Boyle visava provar teorias de Paracelso (Item 4) e Isaac Newton (Link 11 , 12) Se obteria muito ouro, partindo de pouco ouro (Multiplicação Alquímica). Tentariam obter prata ou ouro, a partir do mercúrio.

O resultado é que o mercúrio reduz os sais de prata, produzindo prata metálica, amalgamada e cristalina ( A Árvore Filosófica de Diana).

Nos tempos  já da Química Moderna, Lavoisier inicialmente chamou o Nitrogênio de Azoto, mas pela Raiz Grega “ζωτ(Vida), isto é “Sem Vida”, (Link 8) pois o Nitrogênio não alimenta a Vida. Note a semelhança com Azoth.

Até hoje, os Franceses chamam o Nitrogênio de “Azote” e os Italianos, “L’Azoto”. Portugal também. Links 9 , 10.

O gás foi rebatizado para  Nitrogênio, “gerador de nitratos”. Pelo Químico Francês Jean Antoine Claude Chaptal em 1790. O termo é usado pelos Ingleses, Americanos e nós, os Brasileiros.

Alkahest e Iatroquímica.

Relacionada ao Azoth, há a ideia do Alkahest. Seria um “Corpo”, substância ou solução capaz de dissolver e fluidificar qualquer coisa, retornando-a ao se estado primário, inicial. Um “Solvente Universal”. Também um remédio prático. Em termos químicos modernos, seria uma solução capaz de dissolver, hidrolisar e desagregar qualquer coisa. Alkahest em World Heritage Encyclopedia. LIENHARD, J.E (2000).

As diferenças com o Azoth são sutis. A priori, o Azoth reune, e o Alkahest, dissocia…  Ambos eram usados como remédios, mais o Alkahest, muito mais usado. Links: 14, 15, 16.

Mas tenho em mente que o Azoth seria um princípio hipotético, filosófico e metafísico, que os Alquimistas buscavam extrair do mercúrio, enquanto a Alkahest era uma preparação laboratorial alquímica prática.

Na prática,  as Alkahest, eram soluções alcalinas fortes. Foram descobertas por Paracelso. no século XVI, e estudadas e modificadas por Franciscus Van Helmont

Paracelso usava uma mistura de Cal Virgem ou Cal Cáustica (hoje, óxido de cálcio), potassa (hoje, carbonato de potássio) e álcool Link 42. Ele teria baseado a sua receita, em informações obtidas de Alquimistas Árabes. Principalmente de Geber. PARACELSUS, A.P.T.B.; WAITE, A.D. (Tradução e Comentários) “The Hermetic and  Alchemical Writings of Paracelsus, the Great.” Editora: James Elliot and Co., Londres, Inglaterra, Vol. 1, Pág xii (1894).

Ele poderia dissolver tudo. Claro que não podia, se pudesse não haveria frasco para conte-lo. E poderia purificar metais e transformá-los em ouro, e curar várias doenças.

O Alquimista Inglês (nascido nas Bermudas, uma colônia Britânica) George Starkey (Eirenaeus Philalethes) descobriu que a Alkahest só dissolvia substâncias compostas. PHILALETHES, E.; WAITE,A.E (Coletor) “The Secret of the Immortal Liquid Called Alkahest.Collectanea Chimica. Edição de (1893). Outro Link (1683)STARKEY, G.; PYROPHILUS, J.A (Editor) “Liquor Alkahest.” Editora: W. Cademan, Londres, Inglaterra (1675). Edição comentada e moderna de PYROPHILUS, J.A. (2011).

O Alquimista Flamengo (Belga) Franciscus Mercurius Van Helmont, (filho do famoso Médico e Alquimista Belga Jean Baptiste Van Helmont), Link 17,  modificou a fórmula e criou o seu sucedâneo melhorado de Alkahest,  “Alkali Sal“, “Ignis-Aqua”, uma solução de hidróxido de potássio em álcool. Formada do “Alkali Fixo do Tártaro“, cremor de tártaro calcinado, e “Espírito de Vinho“,  álcool.   VAN HELMONT, J.B.; VAN HELMONT, F.M.; VALENTINI, M.B. (Editor) “Opera Omnia, Novissima Hac Editione.” Editora: H.C. Pauli, Saxonia (hoje, Alemanha), Págs. 316,  457, 742, 748 e 750 (1707). PHILALETHES, E. (STARKEY, G.) “The Secret of the Immortal Liquor Called Alkahest or Ignis-Aqua.” , em COOPER, W. (Coletor e Tradutor) VÁRIOS AUTORES, “Collectanea Chymica.” Editora Pelican in Little Britain, Londres, Inglaterra, Ṕag. 18 (1684).

Ver: JOLY. B. Rev. Hist. Scienc. 305 (1996). PORTO, P.A. Bull. Hist. Med. 1 (2002). GUIMARÃES, L.M. Ide, 39, 245 (2017). PATTERSON, T.S. Ann. Scienc. 1, 462 (1936). PORTO, P.A. Quím Nova, 26, 141 (2003). PORTO, P.A. Quím. Nova 24, 281 (2001). COUDERT, A. “The Impact of the Kabbalah in the Seventeenth Century.” Editora: Brill, Leiden, Holanda, Págs; 155 e 171 (1999). HEDESAN, G.D. “An Alchemical Quest for Universal Knowledge.” Editora: Routledge, Londres, Inglaterra, Págs. xvii, 177, 181,182 e 199 (2016).

Van Helmont verificou que ele dissolvia os óleos vegetais, e deixava uma camada líquida. Nessa camada, teria observado a Glicerina, antes de seu descobridor Oficial, Karl Wilhelm Scheele. Veja Item 9, neste Artigo. VAN HELMONT, J.B.; VAN HELMONT, F.M.; VALENTINI, M.B. , Loc. Cit., Pág 748 .

A preparação do Alkahest foi estudada pelo Alquimista Francês Jean Le Pelletier. PELLETIER, J.D. “L’Alkaest ou le Dissolvant Universel de Van Helmont.” Editora Guillaume Behourt, Rouen, França (1707). Mostrando que é feito de um álcali, um óleo essencial e álcool. Seria um “sabão” de óleo essencial saponificado e diluído em álcool :

Citação, PELLETIER, Loc .Cit. Págs 223 :

Toutes les Pierres e tous les Coquillages qu’on peut calciner au feu, rendent un alcali, que etant volatilisé, par qualque huile essentiele, peut être ensuite uni à l’esprit de vin…

Minha tradução Livre, do Francês:

Todas as pedras e todas as conchas que se podem calcinar ao fogo, formam um álcali, que sendo volatilizado por um óleo essencial, pode então ser unido ao espírito de vinho…

Pelletier conhecia o trabalho de George Starkey e os processos de “volatilizar os álcalis”; STARKEY, G.; PELLETIER, J.E. (Co-Autor e Tradutor) “La Pyrotecnie de Starkey ou L’Art de Volatiliser les Alcalis.” Editora: Guillaume Behourt, Rouen, França (1706).

No que se refere ao Alkahest, em 2005, duas Químicas e Historiadoras de Ciências Brasileiras , Dras. Ana Maria Alfonso-Goldfarb e Márcia Helena Mendes Ferraz, fizeram uma importante e interessante descoberta…

Encontraram nos arquivos da Royal Society, Inglaterra, uma muito antiga carta esquecida, contendo um antigo pó alquímico, que seria uma amostra de “Alkahest” Helmontiniano, preparado de um misterioso material extraído de recifes de coral, o “Ludus“. A ser usado para tratar cálculos renais.  OLIVEIRA, F. Agência Universitária de Notícias da USP, 46, 15 (2013). ALFONSO-GOLDFARB, A.M.; FERRAZ, M.H.M. Circumscribere: Int. J. Hist. Scienc. 7, 19 (2009). ALFONSO-GOLDFARB, A.M.; FERRAZ, M.H.M. Notes & Records Roy. Soc. 64, 435 (2010). ALFONSO-GOLDFARB, A.M.; FERRAZ, M.H.M. Circumscribere: Int. J. Hist. Scienc. 14, 73 (2014). ALFONSO-GOLDFARB, A.M.; FERRAZ, M.H.M.; RATTANSI, P.M. Notes & Records Roy. Soc. 69, 395 (2015). RATTANSI, P.M. Notes & Records Roy. Soc. 62, 407 (2008). ALFONSO-GOLDFARB, A.M.; FERRAZ, M.H.M.; RATTANSI, P.M. Notes & Records Roy. Soc. 68, 227 (2014).

O pó achado tem odor pungente. De fato, Van Helmont descreve o Ludus e o Alkahest como contendo enxôfre. ROOS, A.M.E. “The Salt of the Earth.Natural Phylosophy, Medicine and Chymistry in England, 1650-1750.” Editora Brill, Boston, EUA, Págs 45-47 (2007) . Mas para Paracelso, o Ludus era simplesmente, pirita (um sulfêto ferroso).

Outros Alquimistas citavam um “Alkahest Animal. Link 38. 39. Ou um material contendo mercúrio. Portanto, não se saberia bem a natureza exata, a composição química do Alkahest de Van Helmont, se era mesmo hidróxido de potássio alcóolico. CLERECUZIO, A. Brit. J. Hist. Scienc. 26, 303 (1993). Outro Link. WILLARD, T. em: CLASSEN, A.; SANDIDGE, M.  (Editores), “Bodily and Spiritual Hygiene in Medieval And Early Modern Literature.”  Editora: De Gruyter, Berlim, Alemanha, Vol. 19, Págs. 585-588 (2017).

Robert Boyle o estudou. HUNTER, M. “Robert Boyle Reconsidered.” Editora: Cambridge University Press, Cambridge, Inglaterra. Págs. 80, 86, 92 e 224 (2003).

Para o Médico e Alquimista Alemão Johann Heinrich Cohauser, havia vários sais candidatos a Alkahest e que podiam ser usados como “Sais Iatroquímicos“, medicamentos Paracelsianos. ROOS, A.M. Med. Hist. 51 , 181 (2007). Outro Link.

Ele tenta tornar mais ativo o Alkahest de Paracelso, com carbonato. NUNNING, J.H.; COHAUSEN, J.H. “Commerci Litterarii Dissertationes Epistolicae.” Editora: Andrea e Hort, Frankfurt, Alemanha, Pág. 251 (286 no documento digitalizado) (1746). Em outra obra, ele cita o Alkahest, de Van Helmont (Ignis-Aqua). COHAUSEN, J.H. “Lumen Novum Phosphoris Accensum.” Editora: J. Oosterywk, Amsterdã, Holanda, Págs. 67, 228, 229, 280 (1717).

Iatroquímica era um ramo da Medicina e da Filosofia Natural onde  a Alquimia, usando compostos químicos e sais inorgânicos, era trabalhada para fins medicinais. Desenvolvida  inicialmente por Van Helmont e Paracelso. Links 39, 40, 41.

Nós os Químicos, ainda usamos hidróxido de potássio alcoólico. O Alkahest, “moderno”.

2. GREGOS.

Passamos agora a ver mais alguns Filósofos e Alquimistas  famosos, e seu trabalho. Principalmente no que se refere aos estudos da estrutura da matéria e da natureza da combustão.

Aristóteles. 4 Elementos.

Um Filósofo Grego, aluno de Platão, cujos trabalhos foram inovadores e extremamente importantes para várias áreas de conhecimento,  inclusive a Química.

Para ele, a matéria inanimada e não viva, não adquiria forma… Essa forma vinha de uma “Alma” que criava movimento, e a Vida, o crescimento da plantas e as transformações químicas, vinham desse movimento. Os corpos químicos que podiam reagir, tinham essa “Alma” e eram combinações da matéria com a “Forma”. Hileomorfismo.

Esse movimento partia do “Uno”, do imóvel. Só coisas “vivas” se movimentavam, Por isso, ele criticava a Zenón de Heléia, para quem o movimento era referencial e comparativo. Se você está parado e olha a tartaruga, a tartaruga é mais rápida que você. Não há “imóvel” ou “móvel”, tudo é comparativo. GARDELLA, M. Eidos, 23, 191 (2015).

Em sua obra “Meteorologica“, (350 D.C.) Aristóteles preconiza uma origem comum para todos os metais e eles seriam compostos de 4 elementos: Água, Fogo, Terra e Ar. Em proporções variáveis e características. CLARK, J.R. Traditio, 62, 149 (2006). Aristóteles se baseou nas “4 Raízes” de Empódocles de Agrigento.

Tudo começava quando essas “Raízes” se moviam e o movimento, modificava as proporções das “Raízes” diferenciando os materiais e era causado por duas forças, uma ruim e outra boa. BROFLOVSKI, M. (2014).

É a “Teoria dos Quatro Elementos“, tão conhecida dos Alquimistas e dos Esoteristas. Link 19. Era muito aceita, pelos Alquimistas e considerada incontestável… Links: 27, 28, 29, 30,

Mas a idéia, pelo menos, de 4  ou 5 elementos ou princípios energéticos, mas não necessáriamente materiais, já existia no Oriente. Na China, Judeia, Bizâncio, Tibete, Índia, Japão, etc… HELMENSTINE, A.M. (2019). Links: 57, 58, 59, 60. Link 61.

Demócrito. Atomismo.

Segundo Demócrito, era uma idéia derivada do Filósofo Grego  Leucipo de Abdera (seu professor), que tinha uma idéia de que um pedaço pequeno de matéria, pode ser dividido em duas partes, e novamente dividido, sempre dividido… Porém alguns duvidam que um dia, Leucipo tenha realmente existido. TÉLLEZ, C.A.S. Quim Nova, 15, 95 (1992).

Para Demócrito, se você dividir infinitamente um material, chegará a uma partícula indivisível, chamada de “Átomo”.

Curiosamente, dada à época, e para nós Químicos, acertadamente, Platão critica e modifica a Teoria de Demócrito, dizendo que  dos átomos se arranjariam em formas geométricas características desses átomos! Isso ocorre realmente! Link 20, Link 29. Link 35.

Para Platão, essa beleza geométrica é Divina, e não mundana. Expressa isso, no seu Diálogo Timaeus. Link 21. PLATÃO, “Timaeus, Tradução Crítica e Comentada para o Latim. (1400).

No Timaeus, Platão propõe a existência de um quinto elemento, oÉter“. Link 32. 33.  Seria a “Quintaessência“, dos Alquimistas Europeus.

Platão cita que muitas obras de Demócrito e Leucipo teriam sido queimadas, destruídas. Segundo alguns Autores, teria sido  o próprio Platão a destruí-las. Restaram fragmentos, por isso é tão difícil estudá-las. University of Michigan Press. “Democritus, Death by Philosophy.”.

Aristóteles não concorda e discute muito a obra de Platão, Demócrito e Leucipo e a critica. Link 21. 22. ARISTÓTELES. ROSS, W.D.  (Tradutor) “Metaphysics. . Link 23.

Em princípio, as Teorias de Aristóteles e de Demócrito, são antagônicas. DOWE, M. “The Four Elements and Atomism.” (2018). Mas foram muito importantes para desenvolvimento da Alquimia.

Hermes Trismegisto. Grego?

É um pseudônimo. Não se sabe exatamente quem foi ele…. Para alguns, teria sido o Filósofo Italiano Marsilio Ficino. Ou pelo menos, ele teria traduzido as obras do Hermetismo.

Pelos textos, parece ser  conhecimento de origem Grega, escrito em Grego,  mas o conhecimento exposto chega a tocar a Alquimia ´Árabe e mesmo Hebraica, a Kaballah Mineralis. E a  data dos textos compilados seria na época de Moisés. Link 49. Ou do início da era Cristã. Link 50.

Para muitos estudiosos,  Hermes Trismegisto não seria Grego e sim Egípcio… Link 39. As Principais obras do Hermetismo são a “Tábua de Esmeralda” e o “Corpus Hermeticum“, mas são conhecidos apenas nas traduções iniciais em Latim, e outras traduções. Links: 40, 41, 42, 43, 44. Tradução em Português. Links 46, 47 , 48.

O fato é que a Teoria dos Quatro Elementos e  Alquimia, são citadas na tradição Filosófica Hermética. Link 51. Link 52, 53, 54, 55. Link 56.

Os Alquimistas representavam os elementos por símbolos. Não são ainda “Fórmulas Químicas”. Mas veremos, em futuro artigo, que se tornariam…

Arquimedes de Siracusa.

Arquimedes foi um Filósofo Grego muito profílico, desenvolveu e publicou muitas obras. E tem centenas de invenções e máquinas. Dedicou-se a muitas Ciências: Física,  Mecânica, Matemática, Astronomia etc…

Para nós, Químicos, ele é importante, pois descobridor da Densidade. MAZALI, I.O. “Determinação da Densidade de Sólidos pelo Máetodo de Arquimedes.” UNICAMP. Link 24SANTOS, C.P.; PEDRO NETO, J.; SILVA, J.N “A Geometria. Arquimedes, Biografia.” Editora Norprint (2007).

3. ALQUIMIA ISLÂMICA. ÁRABES E PERSAS.

Avicena.

O Filósofo Natural e Médico Persa Abu Ali Huceine Ibne Abdala Ibne Sina, conhecido como Avicena, já conheceria a Teoria dos Quatro Elementos, exposta em  sua Obra “De Anima in Arte Alchimiae”. Pelo menos a obra é atribuída a ele. Links: 25, 26,. Mas como viveu no período do ano 1000, já conhecia as obras de Aristóteles. Ele comenta sobre Aristóteles, mas Avicena critica a Transmutação. GUILLAUME, E. et al., J. Fire Scienc. 27, 69 (2016).

Em todo o caso, a importância de Avicena é muito maior em Medicina, do que em Alquimia. MOOSAVI, J. Avicenna J. Med. Biotechnol. 1, 3 (2009). GONZALEZ, C.J. “The Canon of Medicine of Avicenna” Editora: AMS Press, New York, USA (1973).

Geber.

Abu Musa Jabir Ibn Hayyan, conhecido no Ocidente e agora, modernamente, pelo nome latinizado Geber. Foi um Alquimista Árabe (721-815 D.C). Sua contribuição para a Química e a Alquimia, é muita grande. Um dos expoentes máximos da Alquimia clássica do Império Bizantino.

Obra de Geber, coletada e publicada  pelo Frei Franciscano, Filósofo, Teólogo e Alquimista Catalão Raimundo Lullo, digitalizada no Brasil, pela Biblioteca Nacional. GEBER; LULLO, “De Alchemia Dialogi Dvo.” (1548). Tradução Livre do Título: “Diálogos Alquímicos Duais”. Muitas obras de Geber foram coletadas e traduzidas, mas seriam apenas atribuídas a ele.

Foi um dos primeiros a sistematizar o que depois seria a Química Analítica Qualitativa. NEWMAN, W.R., “Abū Mūsā Jābir ibn Ḥayyān.” Enciclopédia Britânica Online (1998).

A ele se credita a invenção de equipamentos melhorados para fazer destilações sem perdas, como o Alambique e a Retorta. Também modernizou diversas técnicas de laboratório, como a cristalização, que os Alquimistas chamavam “Fixação”.

Teria descoberto o Ácido Acético (do vinagre) e o Ácido Tartárico (extraído do mosto de vinho). Isolado puro e estudado por Karl Scheele, em 1769. Também o Álcool em forma pura, e descoberta de Geber.

Geber preparou puros (mesmo sem identificar perfeitamente o composto, por isso as descobertas Oficiais são creditadas a outros):  

Bismuto (descoberto por Giorgius Agricola). Enxofre (Hennig Brand), Mercúrio (conhecido pelos Chineses e Indianos, 3000 A.C), Arsênico (descoberto oficialmente por Alberto Magno); Antimônio ( descoberto em forma pura pelo Alquimista Alemão Basile Valentin, 1492, estudado por volta de 1650, por Nicolas Lémery);  O antimônio havia sido obtido impuro por vários Alquimistas como Agricola e Andreas LibaviusLibavius, veja Item 4 neste meu Artigo.

Preparou alguns ácidos inorgânicos nítrico, clorídrico. Teria inventado a Água Régia, mas há dúvidas, pois quase todas as obras originais de Geber, em Árabe, teriam sido traduzidas, modificadas, aumentadas e republicadas nos século XIII e XIV, e são creditadas a Geber, mas escritas por Autor desconhecido; Seriam Pseudo-Geber, portanto.

Acredita-se que um honônimo Alquimista Espanhol as Escreveu. Link 75. 76. Links: 62, 63, 64, 65, 66, 67, 68. Obras de Geber e Pseudo-Geber. Link 73. Alguns Autores acreditam que as obras “Pseudo-Geber“, tenham sido escritas pelo Alquimista Italiano Paulo de Taranto.

Geber ficou conhecido como o “Pai da Química Experimental“, pois foi um modernizador da técnicas do laboratório alquímico, pelo menos das bizantinas. Link 69.

Geber foi modificador na Teoria também. Acreditava na Teoria dos 4  Elementos de Aristóteles (Item 2), mas já Neoplatônica…. Fogo era Quente e Sêco. Terra era Fria e Sêca; Água era Fria  e Úmida e o Ar, Quente e Úmido. Links: 70, 71. Link 72. Link 74.

Quanto mais “Quente” e “Úmido” era um metal, mais nobre. Ouro era Quente e Úmido e o Chumbo, Frio e Sêco.

Ele adicionou outros dois elementos: o “Enxofre Filosófico”, para os materiais combustíveis, e o “Mercúrio Filosófico” para as qualidades metálicas. A diferença entre essas proporções difere um metal do outro, então elas poderiam ser modificadas, transformando um metal em outro… Transmutação. Entretanto, não conseguindo realizá-la, terminaria por considerar a transmutação impossível.

A existência desses elementos de Geber, “Mercúrio” e “Enxôfre” foi pesquisada experimentalmente pelo Filósofo Natural Inglês Isaac Newton.Rosacrucian Digest.” (2013).

Entretanto, ele é muito mais conhecido por seus trabalhos em Física (Gravitação, Mecânica Newtoniana) e Matemática, do que por seus estudos de Alquimia.

Razés.

Outro importante Alquimista do Império Bizantino.

Abū Bakr Muhammad ibn Zakarīyā al-Rāzī, conhecido como Razés. Médico, Filósofo e Alquimista Persa (865-925 D.C.).

Descobertas: Descobridor do Ácido Sulfúrico, Vitríolo. MODANLOU, H.D. Arch. Iran Med. 11, 673 (2008). e dos Alúmens.  Melhorou a purificação do álcool e fez uso dele em Medicina. Destilou o petróleo e descobriu o querosene. Preparou muitas tinturas, extratos e essências.

Inventou, básicamente quase em sua forma atual, o Almofariz, os frascos de vidro, as espátulas de laboratório e as ampolas para medicamentos. Links 77.

Se vivesse em época posterior, empírico como Roger e Francis Bacon, mas ao mesmo tempo Racional com Descartes. Veja a Parte 1, desta série.

Ao contrário de Geber, era um crítico de Aristóteles e da “Teoria dos 4 Elementos”.

Para ele, as substâncias, os corpos químicos, eram formados por quantidades variáveis e características de um elemento mais fixo, “Salino” (metálico) e incombustível  e um elemento “combustível” que podia ser “Oleoso” ou “Sulfuroso”, ambos indivisíveis. Os corpos se diferenciariam pelas proporções entre esses elementos e pelo espaço vazio existente entre eles.

Note que não é Atomismo, mas chega perto…

Racionalista, separou a Alquimia completamente da Magia, Misticismo e Esoterismo.

Razés, de início tenta vários experimentos para conseguir a transmutação, pois acredita que metais podem ser modificados, mudando as proporções dos elementos. Livro, exemplar pertencente ao Autor deste Blog: FARIAS, R.F. “História da Alquimia.” Editora Átomo, Gráfica Bartira. São Paulo, S.P., 2a ed., Pág. 23 (2010). Ele conseguiu colorir a prata de amarelo, e o ouro, de prateado.

4. ALQUIMISTAS EUROPEUS.

Já discutí, em outro Artigo, o trabalho de Alguns Alquimistas Europeus. Roger Bacon, Francis Bacon, Alberto Magno, São Tomás de Aquino.

Muitas obras de diversos Alquimistas Europeus foram coletadas, traduzidas e comentadas pelo Alquimista Italiano Guglielmo Gratarolo. Um dos pioneiros da “Metalocromia”, mudar a cor de metais usando procedimentos alquímicos e químicos.

Também Basile Valentin, descobridor do Antimônio. Veja: “Outros Bancos de Dados Internacionais” , neste meu Artigo. 

A imagem que ilustra este Artigo é creditada a Valentin, no livro: VALENTIN, B.; MOET. P. (Tradutor e Editor) “Azoth, ou le Moyen de Faire l’Or Caché des Philosophes.” Impressão: Pierre Moet , Pág; 169 (1659); Colorização e Copyright por Adam MacLean, Alchemy Web Site.  Link 100. Link 101.

A imagem representa 0 Azoth, completar a grande obra da Alquimia. Harpakherdblog, França (2017).

COCKREN, A. “Alchemy Rediscovered and Restored. The Book of The Revelation of Hermes.” (1941). Republicado em domínio público por HARE, J.B. (2003).

Arnaud de Villeneuve, Médico e Alquimista Catalão. Item 1, neste Artigo. Uma obra dele, tratando da Pedra Filosofal e outros estudos Alquímicos: VILLENEUVE, A. HUYON, G. (Editor) “Opera Nuperrimme Revisa….” (1520).

Uma descoberta interessante, do ponto de vista Químico e Histórico:

Foi ele quem inventou (1300) o famoso “Papel de Tornassol”, um dos mais conhecidos indicadores ácido-base. Para reconhecer um corpo com alcalino ou ácido. O papel de Tornassol é usado até hoje e comercialmente disponível no mundo todo. Veja Meu Artigo.

Arnaud de Villeneuve também pode ser considerado um “pré Ecologista”, pois foi um dos primeiros a intuir e deduzir que o Homem e o meio ambiente interagem, e há necessidade de preservar os recursos naturais.

Paracelso.

Pseudônimo de Philippus Aureolus Theophrastus Bombastus von HohenheimAlquimista e Médico Suiço (1493-1541).

Em Medicina, fez muitas descobertas. Trataremos disso junto, porque a Alquimia de Paracelso deriva muito de seu conhecimento de Medicina.

Ele discordava de uma noção antiga, de que para tratar doenças, você precisava usar remédios que tivesse origem natural, nos seres vivos, como plantas, chás, carvão , chifre de rinoceronte etc… Assim o haviam feito: Galeno, Link 79, 80, Avicena, Link 78 , Hipócrates, os Chineses e os Indianos. Raramente usavam minerais. JACQUART, D. Eur. Rev. 16, 219 (2008). PEMBERTON, R.W. J.  Ethnopharmacol. 65, 207 (1999).

Paracelso parte dos elementos componentes da matéria, para Geber, isto é o “Mercúrio” e o “Enxofre”. e da tradição Hermética. Link 81. Por saber que o corpo humano tem “Sal”, ele o adiciona na lista. “Enxofre, Mercúrio e Sal“. “Teoria dos 3 Elementos“.

Nessa Teoria, os elementos são um “Enxofre Combustível” (Energia); um “Mercúrio Regulável” para restaurar a Saúde e um “Sal Fixo” e Permanente. É a “Tria Prima de Paracelso“.

PARACELSUS, T.; SCHMID, P. (Editor)  “Buch Paramirum“, 1530. Republicado da edição de 1562 (1904). Traduzindo Livre o título, do Alemão e do Latim,  é algo como “Livro do Paradoxo”.

Para Paracelso, o corpo do homem e dos organismos vivos também tem esses elementos químicos, e isso em harmonia… o desequilíbrio  causaria doenças. Assim, Paracelso é o iniciador da Medicina Holística  .

Então, ele propõe que Enxofre, Mercúrio e Sal são componentes do corpo e, são remédios!  e que tudo pode ser venenoso, desde que em excesso. Exemplo, pouco sal é necessário, mas muito sal, mata.

De fato ele testa, e animais morrem com mercúrio, enxofre, sal, água, alimentos etc… desde que em doses altas! Propõe então que tudo é veneno, e tudo é remédio e que minerais, pedras e metais, podem ser medicamentos. desde que em doses corretas. E testa.

De fato, hoje se sabe, tudo é veneno. A diferença entre o Remédio e o Veneno é a dose.

Por isso, ele é o “Pai da Toxicologia“. Link 84. BROWNING, R. “Paracelsus.” Editora: J.M. Dent CO., London (1898).

De uma certa forma, com ele começa o que seria depois a Alopatia.

Ele usa muitas pedras, metais, minérios, corpos químicos inorgânicos, como remédios. Isso se chama “Iatroquímica”, um tipo de Alquimia Médica e Terapêutica, que ele aperfeiçoou (iniciador, Jean Baptiste Von Helmont). Links: 8284, 85, 86,87, 88, 89, 90, 91. Link 92. DEBUS, A.G. Quim. Nova, 15, 262 (1992).

Ocasionalmente, usou medicamentos orgânicos também. Link 83. Por exemplo, inventou o Láudano (um medicamento feito de ópio, aperfeiçoado pelo Médico Inglês Thomas Sydenham). SILVA, J. (2020).

Visto a Medicina, voltemos à Alquimia. Paracelso então, estabelece a “Teoria dos 3 Elementos”. É a “Tria Prima“. Links 94, 95KAUFFMAN, G.B. Gold Bull. 18, 31 (1995).

Outro Livro, obras de Paracelso, exemplar do Autor deste Blog: PARACELSO, T. “A Chave da Alquimia.” Biblioteca Planeta. Editora Três, São Paulo, SP (1973). Links: 94, 95, 96, 97, 98, 99. FORSHAW, P.J. “Paracelsus, Madness and Spirits.” academia.edu (2015).

Também ele batizou o metal zinco, com o nome atual. Que era conhecido desde a Antiguidade, link 93, extraído de um mineral chamado “Blenda”, um sulfeto de zinco natural. Assim como o chumbo, extraído da “Galena” (sulfeto de chumbo).

A Blenda pode cristalizar em forma dourada, por isso, era obtida em alguns experimentos de transmutação. A Pirita (sulfeto ferroso) também é dourada.

Becher.

Johann Joachim Becher, Alquimista Alemão. 1635 a 1682.

Já pode ser considerado um pioneiro, “Um dos últimos Alquimistas” ou “Um dos Primeiros Químicos”, pois seu trabalho, já bastante investigativo, teórico, prático e ponderal, começa a romper com a aura de mistério e magia que cercava a Alquimia, começando a torná-la mais “científica”. GUILLAUME, E. et al. J. Fire Scienc. 34, 69 (2016).

Assim, ele é um dos primeiros, senão o primeiro, e usar as palavras: “Química” e “Químico”, invés de “Alquimia” e “Alquimista”.

Uma citação  que gosto muito. BECHER, J.J. “Physica Subterranea.” (1669). Links: BECHER, J.J. “Physica Subterranea;” Edição de (1738), Revista por STAHL, G.E. . Outras edições: (1733), BNF, Biblioteca Nacional da França, Gallica. Edição de (1703).

“The chemists are a strange class of mortals, impelled by an almost insane impulse to seek their pleasures under smoke and vapour, soot and flame, poisons and poverty; yet among all these evils I seem to live so sweetly that may I die if I were to change places with the Persian king.” Link 100.

“Os Químicos  são uma estranha classe de mortais, impelidos por um impulso quase insano a procurar seus prazeres em meio a fumaça e vapores, fuligem e chamas, venenos e pobreza, e no entanto, entre todos esses males, tenho a impressão de viver tão agradavelmente que preferiria morrer a trocar de lugar com o rei da Pérsia.“ Link 101.

Nessa sua obra principal,  Becher usa as palavras Químico e Química. Moderniza os termos. 

Também, observando os vulcões, ele reporta, e foi um dos primeiros a faze-lo, que o interior da terra é composto de um magma metálico derretido e incandescente.

Para que possamos entender o papel de Becher como pioneiro entre a Alquimia e a a Química,  e um dos estudiosos da estrutura da matéria, dos “corpos químicos” (atuais compostos e substâncias simples) vamos rápidamente recapitular:

Os “corpos” são constituidos, para Aristóteles, por proporções variáveis de elementos “Ar, Terra, Fogo e Água”.

Para Geber , ele adiciona mais dois elementos, um “Mercúrio”, volátil  e um “Enxôfre”, combustível. Que comporiam principalmente os metais.

Em Razés porém, a teoria dos quatro elementos é abandonada, e os corpos se compõe de proporções características de um “mercúrio” salino, fixo e incombustível, e de um “Enxôfre” combustível e volátil, podendo ser sulfuroso mesmo, ou oleoso.

É a Teoria do “Enxôfre” e do “Mercúrio”, que Paracelso vai retomar e adicionar o elemento “Sal”. “Enxôfre ,Mercúrio e Sal“. Esses elementos conteriam, em sua natureza os 4 elementos de Aristóteles.

Voltemos a Becher. Ele é influenciado pelas idéias Alquímicas  e Médicas de Paracelso. Também está interessado na “transmutação”, modificar metais para torná-los mais nobres, ou mesmo ouro. Link 103. e estudar o fenômeno da combustão.

Com a idade de 19 anos, Becher publica sua Obra : “Discursus Solini Saltztal Regiomontani De Potentissima Philosophorum Medicina Universali, Lapis Philosophorum Trismegistus.” dicta. Link 102. Publicação no Theatrum Chemicum, Volume VI. Onde ele discute as idéias de Paracelso.

Becher parte dos elementos “Mercúrio, Enxôfre e Sal”, de Paracelso (que conteriam os 4 elementos de Aristóteles), elimina o Ar e a Fogo como elementos (pois envolvidos na combustão) e divide o “elemento terra” em três partes: “Terra Lapidea“, “Terra Fluida” e “Terra Pinguis“. Ou Terra Vitrificável“, “Terra Mercurial” e “Terra Combustível”,

Terra Lapidea” seria o “Sal” de Paracelso; “Terra Fluida”, o “Mercúrio” , e “Terra Pinguis” o “Enxôfre“. a “Terra Pinguis” é uma porção combustível, associada ao elemento “Fogo”. O “Enxôfre” de Paracelso. Os metais se diferenciam pelas proporções dessas “Terras”. Quando um material combustível queimava, perdia “Terra Pinguis” e deixava “Terra Lapida” e “Terra Mercurial“, formando uma “Cal.

Publicadas entre 1667 (links 113 e 115 , 116) e 1669 (Em Physica Subterranea e em “Physical Education) e muito inovadoras para época, as idéias de Becher dariam origem à “Teoria do Flogisto”. Links: 104, 105, 106, 107, 108, 109, 110, 111, 112. Link 114. Link 119. 122. 123Obras de Becher.

Há alguns outros trabalhos interessantes de Becher. Ele estudou muito  a Acetona, que teria sido preparada por Alquimistas da Idade Média. GORMAN, M. Chymia, 8, 97 (1962). GORMAN, M.; DOERING, C. Chymia, 5, 202 (1959).

SILVA, G.; BECHER, J. “Acetone. AMORC, Alchemical Manuscript Series.” Vol 15 (2016). AMORC é  a Antiquus Mysticusque Ordo Rosæ Crucis, Antiga e Mística Ordem Rosacruz. Link 117. O Autor deste Blog é membro da Ordem Rosacruz, desde 1975.

Em alguns textos antigos, se atribue a Becher a invenção do copo de laboratório que leva seu nome, o “Copo de Béquer”.

Mas seria um frasco sem bico e baixo, mais semelhante a um cristalizador. Os béquer de formas atuais e com bico são copos de Griffin (1850), ou “Béquer Alto”, “Copo de Berzelius“.

Stahl e Flogisto.

Aluno e Amigo de Becher, o Médico e Químico Alemão George Ernst Stahl. 1659 a 1734. Pode ser considerado o último dos Alquimistas.

Ferrenho defensor das Teorias de seu Mestre e revisor e propagandista da obra de Becher, até depois de sua morte.

Stahl revisa e modifica as Teorias de Becher. E elabora experimentos para demonstrá-las. Exemplo, restaura o Ar, junto com a Água e a Terra, entre os elementos fundamentais.

(***) Pois se eu aqueço uma “Cal”, moderno carbonato de cálcio, ele perde gás carbônico e perde peso…. pois forma o óxido…. mas se eu fechar o balão antes de aquecer, não há variação de peso… então para Becher e Stahl , em vaso fechado, não podia haver um “calórico” que era perdido ou incorporado através do vaso de reação…

Associa a “Terra Pinguis“, “Terra Combustível” a um princípio inponderável (que não podia ser pesado), invisível, mas cuja manifestação era ponderal (podia ser pesada). O chamou “Flogisto” ou “Flogístico”. Link 126. 127. Georg Ernst Stahl, citação:

Briefly, in the act of composition, as an instrument there intervenes and is most potent, fire, flaming, fervid, hot; but in the very substance of the compound there intervenes, as an ingredient, as it is commonly called, as a material principle and as a constituent of the whole compound the material and principle of fire, not fire itself. This I was the first to call phlogiston.

Tradução Livre: Brevemente, na composição, como um instrumento que intervém e é muito potente…Fogo, chamas, fervura. Quente. Mas a verdadeira substância do composto é que intervém, como um ingrediente, como é comumente chamado, o princípio material constituinte de todo composto. Não o Fogo em sí, mas o material e o princípio do Fogo. Isso é que eu, pela primeira vez chamei, Flogisto.

A citação é uma tradução para o Inglês, de um  trecho da Obra: STAHL, G.E.; IDELER, K.W. (Editor) “Theorie der Heilkunde.” Tradução Livre do Título: “Teoria da Medicina.”  Pág. 246, Editora Verlag, Berlim, Alemanha (1831).

Para ele,  Stahl, a madeira era uma combinação entre uma “Cinza, uma Terra” e Flogisto, e um Metal, uma combinação entre uma “Cal” e Flogisto. Por causa de ter Flogisto, os corpos eram combustíveis, queimavam e perdiam esse Flogisto para o ar.

Na queima de algo, o Flogisto era absorvido pelo ar e se combinava (reagia, se diria em termos químicos modernos) com ele. O Flogisto teria um papel nas fermentações e nas putrefações, na ferrugem, que seriam combustões lentas com perda de Flogisto. Link 128.

A Teoria do Flogisto está exposta e publicada na obra:  STAHL, G.E. “Zymotechnia Fundamentalis.” (1697). Link 118. CHANG, K.M. Early Scienc Med. 7, 31 (2002). STAHL, G.E. “Fundamenta Chymiae.” (1723). BECK, C.W. J. Chem. Educ. 37, 506 (1960). STAHL, G.E. “Experimenta Observationes Chymicae.” (1721).

Voltemos ao experimento de aquecer o carbonato de cálcio, que vimos antes (***). A perda de peso ocorria porque o carbonato de cálcio perdia Flogisto. Fechado o balão, cortava-se o contacto com o ar, que não estava mais presente para  se combinar ao Flogisto…, pois o ar absorvia Flogisto. Portanto, sem mais variar o peso…

O Flogisto seria absorvido pelo ar, e não desaparecia, ficava lá, acionando a combustão e se manifestando como raios, fagulhas, nuvens e fogo. Link 123.

Veja este Link: Quando o metal mercúrio era aquecido, formava sua “Cal” , hoje seu óxido, ganhava Flogisto…

Quando uma “Cal”, um óxido, era aquecido, exemplo, de certos metais, como o próprio mercúrio, retornava ao metal e perdia peso, pois perdia Flogisto.

Ainda, verificava-se que ar já usado na combustão, não era ativo. isso ocorreria porque ele já estaria muito saturado de Flogisto e não poderia absorve-lo mais…

Mas outros metais, como o zinco, queimavam e produziam óxido…. ganhavam peso! Cadê o Flogisto? SILVA, M.R. Hist. Cienc. Saud. 20, 481 (2013).

Essas incongruências experimentais eram questionáveis, Link 124, mas para Stahl, o Flogisto era uma “essência” e não precisava necessáriamente ter massa. Link 125.

O Flogisto tornou-se muito aceito e era até considerado inquestionável. SICCA, N.A.L.; GONÇALVES, P.W. Quím. Nova, 25, 689 (2002). ALFONSO-GOLDFARB, A.M.; FERRAZ, M.H. M. ComCiência 130, (2011). CHASSET, A.L. “Alquimiando a Química.. BUONFIGLIO, A. ComCiência 130, (2011).

Era aceito até por Robert Boyle, por Cavendish, por Scheele etc… Links 119. 120, 121. 122. Perdurou até o século XVIII. MOTOYAMA, S. Rev. Hist. 97, 3 (1974).Inclusive em Portugal e no Brasil. ARAÚJO, R.J.; FILGUEIRAS, C.A.L. Quím Nova 40, 602 (2017). FERRAZ, M.H.M. ; MEIHY, J.C.S.B. “Processo de Transformação da Teoria do Flogístico no Século XVIII.”  Tese de Doutorado em Filosofia. História da Ciência. FFLCH-USP (1991).

Veja por exemplo, a defesa que faz do Flogisto, o Químico Francês Louis Bernard Guyton de Morveau. MORVEAU, L.B.G. “Défense de la Volatilité du Phlogistique.” (1772).

Outros exemplos: Priestly aceitava o Flogisto e mesmo no século XIX, Humphry Davy iria criticar as teorias de Lavoisier, veremos depois…. Em um experimento, Priestley calcinou óxido de mercúrio, produzindo e recolhendo oxigênio, mas acreditava ter isolado o Flogisto.

Stahl era também adepto do vitalismo. Como para Aristóteles, somente coisas com uma “alma”, uma “vida”, seriam capazes de reagir, cristalizar, “se movimentar” etc…

5. A QUÍMICA.

Para muitos Autores, oficialmente, a  Alquimia se torna a Química moderna  com Lavoisier, como veremos neste Artigo.

Mas na minha modesta opinião, a Química Moderna vai evoluindo da Alquimia, principalmente após Becher e Stahl. SOUZA E BRITO, A.  Ciênc. Tec. Mat. 20, 51 (2008). Veja SICCA até BUONFIGLIO e refs.loc. cit. .

Pois com eles e o Flogisto, a Alquimia já estava bastante ponderal e científica, e muito experimentos já são feitos na tentativa de provar as  hipóteses e as teorias. Por isso, pode-se considerar como a Alquimia terminando e a Química, nascendo…

Se o Flogisto tivesse feito parar a QuímicaNão o fez! muitos Químicos  reconhecidamente Flogistas, como Cavendish, Priestley, Macker, Black, Scheele,  não teriam feito as fantásticas descobertas que fizeram.

De mais a mais, Alquimia foi muito importante para desenvolvimento da Química, e não foi uma pseudo ciência, Links 124, 125, como crêem alguns autores. 126.

Resumindo minha opinião pessoal, Alquimia foi muito importante para a Química e a Alquimia “começa a acabar”, a partir dos experimentos ponderais, com a enunciação do Flogisto, e não após ele ser derrubado por Lavoisier.

Na Parte 3, veja esses Químicos Famosos e seu trabalho.

 

 

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