Entre a Alquimia e a Química. Hipótese e Teoria do Flogisto, e sua Importância na História da Química.


Georg Ernst Stahl. Médico Alemão, Enunciador da Teoria do Flogisto.
Georg Ernst Stahl. Médico e Alquimista Alemão, Enunciador da Teoria do Flogisto. Fonte da Imagem: Blog, BOCKMAN, P., VOF, Flogistonteorin, Ilhas Seicheles.

Autoria: Alberto Federman Neto, AFNTECH.

Revisto, Ampliado e Atualizado em: 29 de Maio de 2023.

O presente artigo reporta um resumo sobre a Hipótese/Teoria do Flogisto , e seu papel na transição entre a Alquimia e a Química, e na História da Química.

1. INTRODUÇÃO E AS TEORIAS ANTERIORES, GREGOS, ALQUIMISTAS e PARACELSO:

Desde tempos muito antigos, muitos Filósofos se dedicaram a imaginar a estrutura da matéria, estudar os “Elementos” fundamentais, que formariam a matéria.

Um dos primeiros foi  Tales de Mileto, Grego mas nascido na Ásia Menor. Para ele, a água era o “Princípio Primário”. O’GRADY, P.F. “Thales of MiletusEditora Routledge, New York, EUA (2016).

As noções de Tales foram aceitas e  ampliadas por Platão  , que já cita os 4 elementos. e  pelo muito famoso e influente Filósofo Grego Aristóteles, aluno de Platão. 78. Aristóteles cita e amplia as “Causas Primárias” de Tales de Mileto. Link 1. 2. 3.

Publicações: CRANE, G.R. TUFTS University, Projeto Biblioteca Digital Perseus. ARISTÓTELES,  “Aristotle Methaphysics Vol. 1 , Pág 980a  Comentários feitos a partir da tradução da edição em Grego de 1924. Link 4.

ARISTÓTELES, TAYLOR, T. (Tradutor); WILKS, D. (Editor), “The Mataphysics of Aristotle.” Londres, Inglaterra, Págs. 8, 9 17, 48 (1801).  ARISTÓTELES, ROSS, W.D.; SMITH, A. (Tradutores); ROMAINE, N. (Revisor), “Metaphysics.” (1908-1910).

Disso Resulta a famosa “Teoria dos Quatro Elementos, Terra, Fogo, Ar e Água“, de Platão e Aristóteles, depois sistematizada, modificada  e ampliada pelo filósofo Grego, nascido na Sicília, Empódocles de Agrigento. e por outros Filósofos gregos, como Anaximandro e por Anaxímenes de Mileto.

A obra de Empódocles é citada e comentada pelo Poeta Romano LucrécioTito Lucrécio Caro, nos primeiros anos da era cristã. LUCRETIUS “De Rerun Natura“. Link 555. Sobre a Natureza das Coisas. LUCRÉCIO; DA SILVA, A. (Tradutor e Comentarista); CIVITA, V. (Editor), “Epicuro, Lucrécio, Cícero, Sêneca, Marco Aurélio.” Coletânea “Os Pensadores.”, Editora Abril Cultural, Págs. 64-284 (1985). Tenho um exemplar impresso desse livro.

EMPODOCLES, LEONARD, W.E. (Tradutor e Comentarista) “The Fragments of Empodocles.” Editora OpenCourt, Chicago, Illinois, EUA, Págs 5-84 (1908).

Muito trabalho foi feito a partir disso. Modificações na hipótese dos 4 elementos, que a maioria dos Alquimistas aceitavam, ou a modificaram. Foi adicionado um quinto elemento, o “Espírito” ou “Quinta Essência“. Por alguns autores, chamadoÉter

. Em 1493, observando as propriedades de muitas substâncias e a queima de materiais combustíveis, o Médico e Alquimista Suiço  Philippus Aureolus Theophrastus Bombastus Von Hohenheim, Paracelso, propôs que os corpos (hoje compostos) continham proporções variáveis de 3 elementos fundamentais: 73.

Um Mercúrio Volátil, um Enxofre Combustível e um Sal Fixo. PARACELSUS, STRUNS, F. (Tradutor e Comentarista) DRIEDENICHS, E. (Editor)”Theophastus Paracelsus. Volumen Paramirun und Opus Paramirun.” Publicado em Jena, Alemanha (1904). Link 6.

PARACELSO, “Opera Omnia“, “Opus Paramirun“. Tradução para o Português de BRAGA, A.C., publicada em “A Chave da Alquimia“, Biblioteca Planeta, Editora Três. São Paulo, S.P.,  Vol. 3, Pág. 77 (1973). Também tenho uma cópia impressa desse livro. PARACELSUS (Autor). JACOBI, J. (Editor); GUTERMAN, N. (Tradutor) “Paracelsus Selected Writings.” Editora Princeton University, Princeton, Inglaterra, Pág 19 e outras (1979).

Sobre Paracelso e seu trabalho, veja este meu Artigo. Algumas das descobertas de Paracelso permanecem vivas, ele inventou o Láudano (um medicamento para dormir e para dor); conceituou veneno e remédio e dose resposta (por isso é o Pai da Toxicologia). Suas ideias revolucionaram a Alquimia e a Medicina. GREL, O.P. (Editor). e vários autores “Paracelsus, The Man and His Reputation, His Ideas , and Their Transformation.” Leiden, Alemanha (1998).

2. BECHER. PRECURSOR DO FLOGISTO:

Baseado na Hipótese dos 4 Elementos dos Gregos e modificando as Teorias de Paracelso, (Link 7) , o Alquimista Alemão Johann Joachim Becher propôs que todos os corpos eram derivados dos elementos Água e Ar (visto que muitos combustíveis não continham Enxofre) e de proporções variáveis de três “Terras”: 

Terra Lapida, fixa ( Terra Vitrificável, sal ou cinza); “Terra Mercurialis” ou “Terra Fluida” (volátil) e uma terra gordurosa e combustível, “Terra Pinguis”.

Explicava a Combustão. Com a ação do calor, um líquido volátil evapora (perde “Terra Mercurial”) e um material combustível, perderia a “Terra Pinguis” e se tornaria mais e mais “Terra Lapida” ou seja, sal fixo ou cinza. BECHER, J.J.; STAHL, G.E. (Editor e Comentarista) “Physica Subterranea.”  Novissima Edição, Editora Officina Weidmanniana, Leipzig, Alemanha (1733). Primeira edição, 1667. Edição de 1738.

À luz da época, isso era bastante lógico, plausível, e era científico!

3. STAHL E FLOGISTO:

O Médico, Alquimista e Químico Alemão Georg Ernest Stahl,

Foi aluno de Becher, e por anos, revisou, modificou, complementou, aperfeiçoou  e republicou as obras e as Teorias  de seu Mestre.

muitas edições traduções e edições, ampliadas e/ou comentadas de Physica Subterranea, de Becher. Várias reeditadas e comentadas por Stahl.

Em seu trabalho, ele (Obras de Stahl) propôs que a Terra Pinguis de Becher, expulsa do material na combustão, vai para o ar, e com o ar, se combina (diríamos hoje, em termos químicos modernos, reage). Ele chamou a esse princípio que ficaria no ar e podia ser capturado, de “Flogisto” ou “Flogístico”. FOGAÇA, J.R.V. “Teoria do Flogístico“; Brasil Escola.

Definição didática e simples do Flogisto.

O Flogisto foi concebido em 1667, mas só foi publicado em língua alemã em 1669, e depois muitas vezes republicado e muito citado em Latim e outras línguas. GUILLAUME, E  Et Al. J. Fire Scienc.  34, 69 (2016). REMONE, H. Chemkon  17 , 75 (2010).

A Obra em Alemão não é fácil de achar, a não ser em reedições modernas: Mas estas são as versões que encontrei:   STAHL, G.E. “Zuffallige Gedanken und Nutzliche Bedenken uber den Streit, Von dem Sogeannten Sulphure.“. Tradução automática e livre do Título: “Observações Incidentais e Reflexões Sobre a Controvérsia do Chamado Enxofre.” Editora Halle, Magdeburgo. Alemanha, reedição de (1718). Reedição de (1747).

Mas há uma excelente tradução francesa da edição de 1669, hoje clássica em História de Ciência, feita pelo Filósofo,  Escritor e Enciclopedista Alemão Barão Von Holbach. STAHL, G.E. (Autor); VON HOLBACH, P.H.D. (Tradutor); “Traité du Soufre”, Editora Didot, Paris, França, Pág; 21 e seguintes (1669) .

O Flogisto, foi também republicado por Stahl em . STAHL, G.E.; HAUDE, A. (Editor), “Experimenta Observationes Chymicae Physicae.” Berlim, Alemanha Págs. 91, 109, 289, 356-362, 403 (1731).          STAHL, G.E.; MICHAELEM, A. (Editor e Prefácio), “Opusculum Chymico Physico Medicum“, Editora Hale, Magdeburgo, Alemanha, Págs.: 69, 310, 320, 327, 328, 338, 352, 355, 364, 365, 391, 393, 393, 493, 511, 516, 747, 762, 763, 794 (1715).

Também o publicou em “Zymotechnia Fundamentalis” (1697) e em  “Fundamenta Chymiae, Dogmaticae et Experimentalis.” (1723). STAHL, G.E.; SALFELD, C. (Editor) “Zymotechnia Fundamentalis.” Brandemburgo, Alemanha, Pág  187 (1697).

Desse modo, um material que sofre combustão, perderia seu Flogisto para o ar, ou para outro composto presente na mistura (hoje seria um redutor). Explicação. Detalhamento. Extensão do Conceito. O Flogisto existiria nos materiais e seria um “Princípio de Inflamabilidade“.

Sobre Stahl e o Flogisto, veja também este outro Artigo meu.

Era bem viável para a época. Link 9.

4. IMPORTÂNCIA DO FLOGISTO. CALÓRICO COMO ELEMENTO QUÍMICO:

O conceito do Flogisto, embora sua base existisse em Becher desde 1667, foi expandido e popularizado por Stahl e perdurou em Química por mais de 100 anos. Mesmo após Lavoisier.

Foi importante e era considerado inquestionável, pois explicava bem a combustão dos materiais, a calcinação  e formação dos compostos, cales (hoje óxidos) e dos metais.

Embora a evolução da Química tenha sido bem gradual e em termos temporais, lenta e com o trabalho de muitas pessoas, culminando na “Revolução Química” depois de Lavoisier,  alguns Autores, exemplo, 18,  consideram de uma maneira simples, que após Becher, Stahl e o Flogisto, a “Alquimia começa a se tornar Química“. Link 28. 29.

Mas indubitavelmente, Alquimia foi muito importante para o desenvolvimento da Química LOMBARDE, W.; KIOURANIS, N.M.M.,  ENCITEC, Ens. Ciênc. Tecnol. 11, 382 (2020). BORGES, P.A.F.; FILGUEIRAS, C.A.F. Et Al.  Quím. Nova 43, 1362 (2020).

De fato Stahl rejeitava a Alquimia “mágica” e muito empírica do passado até seu tempo, e, Links 11,   12, 13, 14,  e é o primeiro a usar o termo, a palavra “Química”, não mais “Alquimia”. Links: 15, 16, 17, 18. STAHL, G.E.; SHAW, P. (Tradutor); OSBORN, J.;  LONGMAN, T. “Philosophical Principles od Universal Chemstry.” Londres, Inglaterra (1730).  STAHL, G.E; “Fundamenta Chymiae Dogmaticae et Experimentalis.”, Tradução Livre do Título: “Fundamentos de Química Dogmática e Experimental” , Nuremberg, Alemanha (1746). Outras edições: 19, 2021. 22.

STAHL, G.E, citação em Alemão:

“Chymie, die auch sonst Alchymia und Spagyrica genannt wird, ist eine Kunst, die gemischten oder zusammengesetzten oder zusammengehäufften (aggregata) Cörper, in ihre Principia zu erlegen, oder aus solchen Principiis zu dergleichen Cörper wieder zusammenfügen.“

Tradução Livre:

“Química, aliás Alquimia e Espagirismo, é uma Arte de decompor os corpos mistos, ou compostos, ou agregados, até seus princípios, ou recompo-los, juntá-los, a partir de tais princípios, até os corpos combinados.”

STAHL, GE. Livremente traduzido para Português: Veja também 26. 27.

“Brevemente, no ato de composição , como um instrumento, intervém, e é mais potente o fogo, flamejante, fervente e quente; Mas, na própria substância do composto, intervém, como ingrediente, como é comumente chamado, como princípio material e como constituinte de todo o composto, o material e princípio do fogo, não o próprio disparo inicial. Este princípio,  eu fui o primeiro a chamar Flogisto.”

Ainda hoje, “Antiflogístico” é um sinônimo antigo de “Anti-Inflamatório” pois Stahl (Médico e Alquimista/Químico), acreditava que a febre e a inflamação eram devidas à liberação de Flogisto. 28. GEHLER, F.W (Aluno); STAHL, G.E. (Orientador); WILHELM, P. (Financiamento); GEHLERUS, F.W. (Editor); LUSAT, G. (Gráfico) “Dissertatio Inauguralis Medica, Paradoxis Medicis Praecipuis, Pro grado Doctorali”. Tradução Livre do Título: “Dissertação Inaugural Para o Grau de Doutor em Medicina, Paradoxos Sobre os Princípios Médicos.” Editora Henckelius, Magdeburgo, Alemanha (1721).

 Desse modo, Stahl, ao mesmo tempo em origem, fosse um  Médico e Alquimista, já era um Químico, devido a suas teorias, na época bem embasadas e com rigor científico.

Ele seria um dos primeiros Químicos, pois foi um pouco antecedido pelo Filósofo Natural Irlandês Robert Boyle como o primeiro Químico moderno ,  ou o último Alquimista. 66. Mas seus estudos começaram alguns anos antes dos de Becker e Stahl.

Mas ao estudar o recentemente publicado Flogisto, Boyle o aceitaria,  inicialmente, mas terminaria por rejeita-lo, proporia um modelo corpuscular e terminaria por descobrir a Lei dos Gases. Veja várias referências. Veja também STRUBE, I. Organon, 4, 127 (1967). BLUMENTHAL, G.; LADYMAN, J. Foundations of Chemistry, 19, 241 (2017).

Então, Boyle influenciou a Becher e a Stahl, antes deles criarem a hipótese do Flogisto. Veja: NEWMAN, W.R. Osiris, 29 , 1 (2014).

O “Flogisto” não era uma Alquimia empírica, uma bobagem, e sim, uma teoria química rigorosa e bem embasada experimentalmente. Por isso perdurou por 100 anos. WISNIAK, J. Indian J. Chem Technol. 11, 732 (2004). WISNIAK, J. Outro Link (2004).

J. FERRAZ, M.H.M.; MEIHY, J.C.S.B. (Orientador), “Processo de Transformação da Teoria do Flogístico no Século XVIII.” Dissertação de Mestrado em História da Ciência, Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Depto. de Filosofia, Letras e Humanidades (1991).

A respeito de tudo isso, sugiro ao Leitor que veja meus dois Artigos sobre os Alquimistas e os Químicos Antigos.

Há autores que porém, consideram o  Químico Francês Antoine Laurent Lavoisier, o “Pai da Química“. iniciador da Química moderna.

Ele critica, desde 1777, e depois derruba o Flogisto, em 1783. 53 , 54,; LAVOISIER, A.L. Hist. Acad. Roy. Scienc. 505 (1783).

Mas o substitui pelo “Calórico” (modificado do conceito do Escocês Joseph Black), link 26, 27, 28. 49. Embora Lavoisier tenha isolado o Oxigênio (descoberto por Scheele, dois anos antes) ele atribui a inflamabilidade ao Calórico, e não ao Oxigênio! KLEIN, U. Stud. Hist. Phil. Scienc. A,49 , 80 (2015). BEST, N.W.  Foundations of Chemistry,  18, 3 (2016). KIM, M.G. Foudations of Chemistry, 13, 201 (2011).

Sobre a descoberta do Oxigênio e dos Ácidos: Lavoisier cita Scheele como o descobridor do gás, mas Priestly afirmava ser o descobridor. De fato, foi o primeiro a observar o gás, mas não sabia o que era. O nome Oxigênio foi dado por Lavoisier, “Gerador de Ácidos”. Pois Lavoisier e depois,  Berzelius, supunham que todos os ácidos contivessem oxigênio. Humphrey Davy vai mostrar que todos os ácidos tem sim, hidrogênio; 94 . 95. Arrehnius definitivamente descobrirá que hidrogênio é o elemento fundamental dos ácidos.

Veja meus artigos, História dos Ácidos da Bases e do pH. Partes 1, 2 e 3.

Lavoisier acreditava que o calor era um elemento e era incorporado ao corpo ou composto. Um elemento simples. LAVOISIER, A.L. “Memoires de Chemie et de Physique.” Vol. 2, em: “Ouvres de Lavoisier“, Editor: Ministre de L’instruction Publique et des Cultes, Paris, França, Muitas Páginas, reimpressão de (1862). LAVOISIER, LAPLACE, “Mémoire Sur le Chaleur.” (1780), Republicada em (1862). 91.

Citação LAVOISIER, A.L. “Traité Elementaire de Chemie.” (1793). Pág. 200:

“Nous savons, en général, que tous les corps de la nature sont plongés dans le calorique, qu’ils en sont environnés, pénétrés de toutes parts, et qu’il remplit tous les intervalles que laissent entre elles leurs molécules : que, dans certains cas le calorique se fixe dans les corps, de manière même à constituer leurs parties solides.”

Minha Tradução Livre, do Francês:

“Nós sabemos que em geral, todos os corpos (hoje, substâncias) da Natureza estão mergulhados no Calórico. Assim estão envolvidos, penetrados em todas as partes. Ele preenche todos os intervalos que deixam entre as suas moléculas: Que em certos casos, o Calórico se fixa no corpo, de modo mesmo a constituir suas partes sólidas.”

Outra citação: LAVOISIER, A.L. Hist. Acad. Roy. Scienc. 505 (1786), Pág 514:

La matière de la chaleur & de la lumière ayant la propriété de pénétrer, de paner à travers les vaiueaux, il iunit, pour revivifier ces chaux, de les exposer à un certain degré de chaleur, & de les garantir du contact de l’air.

Tradução Livre: A matéria do calor e da luz, tendo a propriedade de penetrar através dos vasos de reação, se unifica para revivificar as cales, expo-las a um certo grau de calor e lhes garantindo um contato com o ar.

Veja também LAVOISIER, A.L; LAVOISIER, M.A (Esposa de Lavoisier, Editora Científica) “Memoires de Chemie”, Monografia Impressa, Vol. 1, Paris, França. Pág. 1 e seguintes.

Mas o Calórico, assim como o Flogisto, também  era um erro! Humphrey Davy já o criticava, para ele, o Calórico não existia.

 O Calórico só foi derrubado no século XIX, 1803,  pelo Químico Francês Claude Louis Berthollet. 57. 58. 80. LE GRAND, H.E. Ambix  22, 58 (1975). 72.

Para ele, o calor era de origem externa,  ou resultante das combinações químicas (hoje, reações), e não era um fluido ou partícula, ou elemento, que tudo permeava (como o era para Lavoisier). BERTHOLLET, C.L.; DIDOT, F (Editor) “Essai de Statique Chimique.“, Editora Didot, Paris, França, 2a Parte (1803).

Ou seja, um copo de água não está imerso no calórico! Um cubo de gelo não perdeu calórico!. Para Berthollet, a palavra  “calórico” designava o que hoje se denomina “Calor Latente”, este sim, característico da substância.

Mas  o papel fundamental de Lavoisier na “Revolução Química” foi mais além, porque ele  desenvolveu, revolucionou e modernizou muitas teorias, unificou e modernizou a nomenclatura, inventou instrumentos, definiu “Elemento Químico” e popularizou  muito a Química. LAVOISIER, A.L. “Traité Élémentaire de Chemie.” Editora Chez Cuchet, Paris, França, Vol. 1 (1789).

A revolução Química havia começado até antes, ou junto, de Lavoisier. A partir do Flogisto. MOCELLIN, R.C Scient.Stud. 10 , 733 (2012). CARVALHO, R.C. Scient. Stud. 10, 759 (2012). GUYTON DE MORVEAU, L.B. “Défense de la Volatilité du Phlogistique.” Carta à Academia de Medicina (1772).

Mas considerar o Flogisto uma hipótese não científica, uma “Alquimia sem comprovação”, é um erro conceitual. Link 19. Foi sim uma hipótese, teoria plausível e, rigorosa, demonstrável experimentalmente e científicamente, link 20. E por isso suposta correta na época, 21,    24, 2526, e a primeira teoria  científica em Química, muito depois muito aceita, mas descartada após muito trabalho teórico e experimental. 70.

Na realidade, as duas Teorias, do Flogisto e do Oxigênio, eram na época, até comparáveis. Poder-se-ia considerar o Oxigênio como “Flogisto Puro”, WAN, C. (2016). Nessa época, mesmo Famosos e Competentes Químicos, como Priestly e Cavendish, confundiram gases com o Flogisto!

Tanto se acreditava nele, que mesmo após Lavoisier, o famoso e muito competente Químico Inglês Joseph Priestley descobridor de vários gases novos, defendeu o Flogisto até o final da Vida. PRIESTLEY, J. Phil. Roy. Soc. London62, 147 (1772). PRIESTLEY, J.; BYRNE, P. (Editor); KENNEDY, A. (Impressor) “The Doctrine of Phlogiston Stablished.” Northumberland, Philadelfia, EUA (1803).

Sobre Priestley e o Flogisto: Links  22, 23, 24, 25. . OLIOSI, E.C.; FERRAZ, M.H.M. “Joseph Priestley (1733-1804): Uma Seleção dos Experimentos que revelam a presença do Flogístico.” Dissertação de Mestrado em História da Ciência. PUC-SP, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2004). HELMENSTINE, A.M. (2019). GOLINSK, J. (2002).

Merece destaque o Famoso Médico e Químico Francês Pierre Joseph Macquer , de início Flogista,  e adversário de Lavoisier, 92,  terminaria por aceitar parcialmente Lavoisier 92. ,  MACQUER, P.J.; HERISSANT, J.T. (Editor) “Elements de Chymie Theórique.” Paris, França (1749). SILVA, G.M.S.  “Lavoisier”, “História da Química”, Curso de Química, FFCLRP.

Mas Macquer tenta compatibilizar as duas teorias. Outro Link. E defende ainda, o Flogisto. MACQUER, P.J.. HERISSANT, J.T (Editor) “Elemens de Chymie Practique.”, Paris, França, 2a Ed., Vol I Págs.: 28, 49, 108, 115, 164, 192, 267, 272, 282, 364, 375, 387, 394, 431, 460 (1756).

Muitos antigos Químicos famosos e influentes foram Flogistas, 36  37 44,  , como Robert Boyle (no início) , Henry Cavendish, 34,    Guyton de Morveau, 28, 29. Carl Scheele. MELHADO, E.M. Hist. Stud. Phil. Scienc.  13, 311 (1983).

Humphy Davy  era Flogista, mas depois se tornou Antiflogista, mas criticava as Teorias de Lavoisier também. 67   68  ,   69. Era o chamado Pluralismo Químico. Ele considerava as falas de Lavoisier endeusando o Oxigênio, um Imperialismo Déspota, e nesses casos, retornava ao Flogisto.

Na realidade, os Flogistas perduraram até o século XIX. 31. 32. 33. ODLING, W.A. Pop. Scienc. Montly9, 1 (1876). Teoria foi mesmo restaurada várias vezes. 45. Associado ao Calórico de Lavoisier , Elemento fósforoenxofre, O Flogisto também foi associado 45 aos elétrons, à água, 43hidrogênio, 41, 52Oxigênio, 42.  

Mesmo sobreviveu até o Século XX, associado às moléculas de alta energia em meio biológico!.  mesmo associado aos cristais . 51.

Não é o caso de aceitar ou de ressuscitar a Teoria do Flogisto, mas não devemos desprezar sua importância capital, inegável, na evolução histórica da Alquimia à Química e no desenvolvimento da própria Química ,

Nem devemos considerar o Flogisto sem base científica para a época. Na realidade, o conceito vai evoluindo  até Lavoisier e a “Revolução Química” e mesmo depois disso.

Sobre essa importância do Flogisto veja THAGARD, P. Princ. Rev Filol. 14 (2007).

5. RESUMO E CONCLUSÃO:

O presente artigo procura mostrar, de uma maneira resumida, a importância de Teoria do Flogisto, de George Ernest Stahl, na História e no Desenvolvimento da Química,

Também podemos considerá-la como um marco histórico do fim da Alquimia Empírica.

O Flogisto não deve ser encarado  como uma hipótese errada e a ser rechachada, pelo menos do ponto de vista Histórico,  Pois na época, o Flogisto foi influente e perdurou por muito tempo e era sim,  importante, científico e bem formulado.

Perdurou, e tinha seus adeptos, até o século XIX. Veja uma defesa do Flogisto, em 1866. Ainda na época de Marcellin Berthellot, em 1890, ainda havia Flogistas.

A importância dele para a História da Química e para o próprio desenvolvimento dela, é inequívoco.

As referências bibliográficas deste trabalho, mostradas nos links, foram pesquisadas pelos métodos expostos neste Artigo.

 

 

 

 

 

 

 

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