Os Erros da Ciência.


George Sarton
Uma Citação do Químico e Historiador de Ciência George Sarton. Fonte da Imagem: AZQuotes.

Autoria: Alberto Federman Neto, AFNTECH.

Ampliado e atualizado em 17 de Abril de 2020.

Neste Artigo editável, irei publicando alguns erros da Ciência, sejam erros Históricos, como Químicos etc…

A imagem que ilustra este Artigo é uma citação do Químico e Historiador de Ciência Belga, naturalizado Americano, George Alfred Leon Sarton. 1884 a 1956.

Tradução Livre: “Os Homens de Ciência tem cometido muitos equívocos, de todo o tipo. Seu conhecimento só tem aumentado por causa do abandono dos erros dos Antigos, das aproximações ruins, e das conclusões prematuras.

Outra citação dele:

“The acquisition and systematization of positive knowledge is the only human activity which is truly cumulative and progressive. Our civilization is essentially different from earlier ones, because our knowledge of the world and of ourselves is deeper, more precise, and more certain, because we have gradually learned to disentangle the forces of nature, and because we have contrived, by strict obedience to their laws, to capture them and to divert them to the gratification of our own needs.”

Tradução Livre: “A aquisição e sistematização do Conhecimento positivo é a única atividade humana que é verdadeiramente cumulativa e progressiva. Nossa Civilização está essencialmente diferente do que era antigamente, porque nosso conhecimento do mundo e de nós mesmos, agora é mais profundo e mais preciso, mais certo, porque temos aprendido a desvendar as forças da Natureza e porque temos planejado, com estrita obediência a suas leis, capturar e adaptar essas forças, para asatisfação de nossas próprias necessidades.”

1. ERRO EM HISTÓRIA DA QUÍMICA. A “REAÇÃO DE MENSCHUTKIN” NÃO É DELE!

Em outro Artigo , usei uma reação da Química Orgânica , uma alquilação, a “Quaternização” , Link 1,  reação entre haletos de alquila e aminas terciárias alifáticas. O produto é um sal de amônio quaternário. MADAAN, P.; TYAGI, V.K. J. Oleo Sci. 57, 197 (2008).

  É  uma reação  muito importante, muito usada na manufatura de quaternários de amônio, tensoativos  [ DALTIN, D. “Tensoativos, Química, Propriedades e Aplicações.“, Editora Blucher, São Paulo, S.P (2012) ] aniônicos,  que são muito usados, por exemplo em desinfetantes, antissépticos e condicionadores de cabelo.

Trata-se de uma reação muito antiga e clássica, “Reação de Menschutkin“,   dizem que descoberta pelo Químico Russo Nikolai Alecksandrovich Menschutkin , em 1890.

Assim passou a História, como sendo o descobridor da reação.

Há muitas citações, está errado até em livros. Apenas alguns poucos exemplos: ACEVEDO, O.; JORGENSEN, L.W. J. Phys. Chem. B, 114, 8425 (2010). Links 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 1213, . SOLÀ, M. J. Am. Chem. Soc. 113, 2873 (1991). STANGER, K.J., LEE, J.; SMITH, B.D.   J. Org. Chem. 72, 9663 (2007). MARAN, U.; PAKKANEN, T.A.; KARALSON, M. J. Chem. Soc., Perkin Trans. 2, 2445 (1994). GONIKBERG, M.G.; ZHULIN, V.M. Aust. J. Chem. 11, 285 (1958).

Trata-se de  um grande erro histórico! Na realidade, Menschutkin reestudou a reação em 1890, MENSCHUYKIN, N. Zeit. Phys. Chem. 5, 589 (1890). MENSCHUTKIN, N. Zeit. Phys. Chem. 6, 41 (1890),

E a adaptou em termos da estrutura do haleto utilizado, a estudou do ponto de vista físico-químico e industrial, mas não a inventou!

Ainda, no mesmo ano de 1890,  a  reação tida como “de Menschutkin“, foi estudada por: COLLIE, N.; SCHRYVER, S.B. J. Chem. Soc. Trans. 57, 767 (1890), na Inglaterra.

A reação entre haletos de alquila e aminas terciárias, a “quaternização” foi descoberta na realidade, pelo Químico  Alemão Victor Meyer , Link 13, em 1875. MEYER, V.; LECCO, M. Ber. Dtsch. Chem. Gessel 8, 936 (1875). Outro link para o mesmo artigo. Citado por LOSSEN, W. Ber. Dtsch. Chem. Gessel 8, 47 (1875). Link para o artigo completo.

Concluindo, a chamada “Reação de Menschutkin“, não era dele! Porque já tinha sido descoberta 15 anos antes.

2. FUSÃO FRIA:

A Fusão Nuclear quente ocorre no sol, onde hidrogênio é convertido em hélio. Dois núcleos leves se fundem, formando um núcleo mais pesado, e emitindo energia.

Para mim, opinião pessoal, “Fusão Fria” não é bem um erro,  mas ainda é assunto muito controverso! Um mistério científico. Link 22, Só o tempo dirá se a “Fusão a Frio” é uma realidade ou não.

É um tópico científico que ainda carece de muita investigação. Porque a Fusão Fria é difícil de ser confirmada ou rejeitada completamente, pela dificuldade de fazer as medidas e sua precisão, difícil reprodutibilidade

Fusão a Frio” é uma alteração do núcleo  de hidrogênio ou deutério, em condições de eletrólise simples. É negada por muitos pesquisadores e membros da comunidade científica, mas também é….confirmada por muita gente!

Em 1989, Martin Fleischmann e Stanley Pons reportaram que durante uma eletrólise modificada de água deuterada, com eletrodos de paládio, medidas calorimétricas ao redor do paládio (onde se localizava o deutério adsorvido na massa do paládio, em altas pressões internas) sugeriam muito alta temperatura localizada, com reação de fusão dos átomos de deutério e trítio e produção de hélio e de raios gama.

É a Fusão Fria. FLEISCHMANN, M.; PONS, S. J. Electroan. Chem. 261, 301 (1989). FLEISCHMANN, M.; PONS, S.; ANDERSON, M.W.; LI, L.; HAWKINS, M. J. Electroan. Chem. Interf. Electrochem. 287, 261 (1990). FLEISCHMANN, M. et al. Nature, 339, 667 (1991).

Essa “Fusão Fria” foi confirmada por  Milles e colaboradores, em 1991.  BUSH, B.F.; LAGOWSKI, J.J; MILLES, M.H.; OSTROM, G.S. J. Electroan. Chem. 304, 271 (1991). e também por Jones e colaboradores, em 1989. (inclusive a descoberta foi considerada dos  dois grupos de pesquisa). Link 16JONES, S.E. et al. Nature, 338, 737 (1989).

Ocorre que curiosamente, muito antes, a fissão nuclear não havia  sido descoberta, em 1927, o Químico Sueco John Tandberg, havia observado algo semelhante na eletrólise da água, e até patenteado um processo para fabricar gás hélio. É “Fusão Fria”, também! POOL, R. Science 244, 420 (1989). DUFOUR, J.; FOOS, J.; MILLOT, J.P (1989). RAFELSKI, J. et. al., Fusion Technol. 18, 136 (1990). DUFOOR, J. Fusion Technol. 24, 205 (1993).

A descoberta de Tandberg foi confirmada por Fritz Paneth , no mesmo ano, 1926.  PANETH, F. Nature 119, 706 (1926). PANETH, F.; PETERS, K. Naturwissenchaften, 14956 (1926).

Vários pesquisadores discordaram e discordam da existência da “Fusão Fria”: PETRASSO, R.D et al. Nature, 339, 667 (1989). HUIZENGA, J.R. “Kalte Kernfusion.“, (1994). HUIZENGA, J.R. “Cold Fusion, the Scientific Fiasco of the Century.” (1994). ROUSSEAU. D.L. Am. Scient. 80, 54 (1992). WILLIAMS, D.E. et al., Nature, 342, 375 (1989). Link 13. MADDOX, J. Nature, 338, 691 (1989). MARASAKTLA, K. (2011). GOODSTEIN, D. Am. Sch. 63, 527 (1994).

Mas outros a apoiam, mesmo que, mecanísticamente, procurem explicações que envolvam formação de sub-partículas atômicas, como os “Muons” e/ou “Bosons de Higgs“, ou seja, devidos a pressão interna, cristais etc…: STORMS, E. Fusion Tech. 20, 433 (1991). BUSH, R.T. Fusion Tech. 22, 3012 (2017). STORMS, E. J. Sci. Expl. 10, 185 (1996). STORMS, E. Naturwissenchaften, 97, 861 (2010)GRANITE, E.; JORNE, J. J. Electroan. Chem. Interf. Electrochem. 317, 285 (1991). MATSUMOTO, T. Fusion Technol. 16, 532 (1989). JONES, S.E. Nature, 321 , 127 (1986). LEWENSTEIN, B.V. Osiris, 7,, 135 (1992). JONES, S.E. et al., Nature, 343, 703 (1990). KUHNE, R.W. Phys. Lett. A 155, 467 (1991). ZIEGLER, J.F. et al. Phys. Rev. Lett. 62, 2929 (1989). MIZUNO, D. (1998). ALBAGLI, D. et al., J. Fus. En. 9, 133 (1990). GOZZIL, D. et al. (1994). PETITJEAN, C. Fusion Eng. Desig. 11, 255 (1989). RABINOWITZ, M. Mod. Phys. Lett.4, 233 (1990). KOZIMA, H. (1998). KOZIMA, H. (2006), GALETTI, D. Cad. Bras. Ens. Fís. 7, 203 (1990). BUSH, R.T. Fusion Technol. 22, 301 (1992). KRIVIT, S.B. (2005). SRINIVASAN, M. Curr. Sci. 417 (1991).  Links: 6, 7, 8. 9, 10, 12.

Há mesmo quem não defenda a “Fusão a Frio”, abertamente, mas também não a rejeita. SCHULTZE, J.W. et al. Electrochem. Acta 34, 1289 (1989). POOL, R. (1989).

Outros resultados parecem coerentes com a real existência da fusão fria. Evidências positivas. Exemplo, fusão nuclear catalítica, com paládio nano particulado, de deutério adsorvido no paládio com óxido de zircônio (“pinco-deutério”) ocorrendo em temperatura  acima da ambiente. Trabalho principalmente do Cientista  Japonês Hoshiaki Arata. Link 17, 18. 19. 20, ARATA, Y.; ZHANG, Y.C. Fusion Technol. 18,95 (1990). ARATA, Y.; ZHANG, Y.C. Proc. Japan Acad. B, 71, 304 (1995). ARATA, Y.; ZHANG, Y.C. Fusion Technol. 22, 287 (1992). ARATA, Y.; ZHANG, Y.C. J. High Temp. Soc. 34, 85 (2008). Seriam resultados explicados por um novo tipo de radioatividade oriunda do deutério pesado. WINTERBERG, F. Phys, Lett. A 374, 2766 (2010).

Outra evidência a favor da fusão a frio, superaquecimento durante eletrólise de solução de carbonato de potássio com catodo de níquel. NONINSKI, V.C Fusion Technol. 21, 163 (1992). Parecem existir  já, até máquinas que gerariam energia usando fusão fria: Links: 1, 2, 3, 4, 5, 11.

Em todo o caso, para mim, minha mente inquisitiva não me deixa refutar a “Fusão a Frio“, como uma falácia. Ela já tem evidências experimentais suficientes para não ser encarada como uma “suposição sem provas”, mas sim como uma “Hipótese Científica”, ainda carecendo de provas experimentais suficientes, para se tornar uma “Teoria”. Método Científico, Hipótese e Teoria.

3. TRANSMUTAÇÃO:

Como vimos em outros Artigos neste Blog  (1, 2, 3), para os leigos e os Alquimistas amadores, Transmutação seria o processo para transformar metais comuns. como o ferro e o chumbo, em ouro e enriquecer.

Mas para os Alquimistas mais sérios, tinha um significado simbólico. Visava transformar, melhorar, metais ou minerais comuns “menos nobres” e atacáveis pelos ácidos, em materiais “mais nobres”, inatacáveis e não reativos.

Para a Físico-Química, Transmutação é a transformação real de um elemento químico em outro.

A Radioatividade foi descoberta pelo Físico Químico Francês Antoine Henri Becquerel, Link 24, em 1896. Link 25. BECQUEREL, H. Compt. Rend. Seanc. Acad. Scienc. Págs 420 e 501 (1896). Ele pensava que era uma propriedade ligada à fosforescência, estudada por seu Pai (veja este meu Artigo). A Radioatividade foi detectada nos sais de urânio, e depois encontrada no tório, no polônio e no rádio. SCHMIDT, G.C Compt. Rend. Seanc. Acad. Scienc. 1264 (1898). CURIE, M.S Compt. Rend. Seanc. Acad. Scienc. 126,1101 (1898). CURIE, M.P.; CURIE, M.S. Compt. Rend. Seanc. Acad. Scienc. 127, 175 (1898). CURIE, M.P.; CURIE, M.S.; BÉMONT, G. Compt. Rend. Seanc. Acad. Scienc. 127, 1215 (1898).

Em 1902, dois Químicos, o Neozelandês naturalizado Inglês Ernest Rutherford e o Inglês Frederick Soddy descobriram que a Radioatividade emitida pelo tório era decorrente do decaimento radioativo, com formação de outros elementos químicos. O Tório formava uma “emanação” (que hoje se sabe, é o gás nobre radônio). RUTHERFORD, E. Phil. Mag. 49, 1 (1900). RUTHERFORD, E.; SODDY, F.  Phil. Mag. 4, 370 (1902). Outro Link. em 1925, Rutherford e o Físico Inglês Patrick Maynard Stuart Blackett , conseguiriam fazer uma alteração de núcleo atômico artificial, bombardeando nitrogênio com partículas alfa, produzindo oxigênio. Link 21, 22.

Eram  verdadeiras “Transmutações”. Mas atômicas. Mas erros em Ciência existem. As “Transmutações” eram tentadas por via Química Clássica, ou outros processos de baixa energia.

Nos anos 20, o Físico Japonês  Hantaro Nagaoka  afirmava ter obtido ouro, passando uma descarga elétrica de 150000 Volts  entre eletrodos de tungstênio e mercúrio. E afirmava que o núcleo do mercúrio era alterado, para produzir ouro… Substituindo o eletrodo de tungstênio pelo ferro, obtinha prata. NAGAOKA, H. J. Phys. Radium6, 209 (1925). NAGAOKA, H. Nature116, 95 (1925)

Até lembra a “Fusão a Frio”, Tópico 2,  não?

Também os Engenheiros Químicos Alemães Adolf Miethe e Hans Stammreich teriam detectado ouro dentro de uma lâmpada de vapor de mercúrio esgotada. O ouro se formaria do mercúrio, pelo bombardeamento dos elétrons.

Stammreich  era especialista nessas lâmpadas. Depois, Stammreich emigraria para o Brasil, se naturalizaria Brasileiro e foi um dos pioneiros da Espectroscopia Raman.

O ouro se formaria com rendimento de até  16 %. MIETHE, A.; STAMMREICH, H. Zeit. Anorg. Allg. Chem. 158, 185 (1926). Ibid. 140, 368 (1925). MIETHE, A.; STAMMREICH, H. Zeit. An. Chem. 67, 112 (1925). RIESENFELD, E.H.; HAASE, W. Ber. Dtsch. Chem. Gessel A & B 58, 2828 (1925). RIESENFELD, E.H.; HAASE, W. Naturwissenschaften 13,745 (1925). GARRETT, M.W. Proc. Roy. Soc. A, 112, 761 (1926). GARRETT, M.W. Ibid. 114, 289 (1927). KILDARE, A.A. (1927).

O trabalho de Miethe e Stammreich foi questionado e refutado, após os trabalhos de Sheldon, Estey e outros. HARKINS, W.D.; KAY, W.B. Phys. Rev. 31, 940 (1928). KILDARE, A.A. (1927) . TIEDE, E.; SCHLEEDE, A.; GOLDSCHMIDT, F. Ber. Dtsch. Chem. Gessell. 59, 1629 (1926).

Considerado um erro da ciência. Também uma equipe da  conhecida revista Scientific American, investigou esses trabalhos, nos anos 1924-1928, e não considerou essa transmutação, possível:

Citado:

Scientific American 131 (6): 389 (Dec. 1924); “Why We are trying to make Gold”; ibid., 132 (3): 157 (March 1925); “Our Artificial Gold Investigation”; ibid., 133 (5): 296, 297(Nov. 1925); “Tests Fail to Confirm Transmutation to Gold”; ibid., 135 (2): 151, 152 (August 1926); “Transmutation of Gold into Quicksilver: A New Method of Attack”;ibid., p. 90 (17 April 1926); ibid., 138 (3): 208 (March 1928); “The Retreat of the Modern Alchemists”

Mas outros autores como Paneth, recordariam a Alquimia, citando que a matéria se transformaria, mas não perderia sua natureza, a matéria primordial, “Os Corpúsculos de Mercúrio e Ouro” (Veja os “corpúsculos atômicos” de Robert Boyle, neste meu Artigo). PANETH, F. Science, 64, 409 (1926).

 

 

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