
Autoria: Alberto Federman Neto, AFNTECH.
Revisto, Ampliado e Atualizado em: 21 de Junho de 2024.
1. INTRODUÇÃO:
Prezado Leitor…. quem disse que os Cientistas nunca erram? De vez em quando, eles erram sim!
Neste Artigo, reporto um erro ocorrido em experimentos de Química Antiga…. Uma “transformação” do Elemento Químico Fósforo nos elementos Arsênio e/ou Antimônio!
Em outras palavras sim…. uma “Transmutação” por via Química …. , só que não era…!
Essa pretensa “Transmutação”, e outras relacionadas, é o objetivo deste Artigo.
No final do Artigo, comentarei sobre as formas alotrópicas do fósforo e sua História.
A imagem que ilustra este artigo, é a “Árvore da Vida“, um antigo símbolo da Filosofia Hebraica da Cabala, mostrando a estrutura e a possível evolução do Ser Humano e do Universo . Fonte da Imagem, GRAY, W.G. “Sephiroth and the Tree of Life.”, Useful Notes, Kabbalah, Site TVTropes, Licença Creative Commons, livre desde que a fonte seja citada.
Se se interessar pelo assunto, leia (tenho na minha biblioteca, exemplar impresso do livro). SHIMON HALEVI, G.B. “A Árvore da Vida (Cabala). “Coleção Biblioteca Planeta”, Editora Três, São Paulo, S.P., Vol. 17 (1973). Link 3.
2. TRANSMUTAÇÃO, ALQUIMIA:
Para os Antigos Alquimistas, “Transmutação” podia significar simplesmente uma transformação química… Um produto químico, uma substância, um composto (se dizia, ao tempo da Alquimia, um “Corpo Químico”), se transforma em outro.
De fato, tanto houve certa credibilidade na Alquimia e na Transmutação, que Filósofos e mesmo Químicos antigos a estudaram. HITCHCOCK, E.A, “Remarks Upon Alchemy and the Alchemists.” Editora Crosby, Nichols and Co., Boston, EUA e Cambridge, Inglaterra (1857).
Em dois exemplos simples: O Filósofo, Matemático e Físico Inglês Isaac Newton, famoso por seus geniais trabalhos em Matemática, Física, Ótica e nas Leis da Gravitação e Mecânica clássica, estudou e praticou Alquimia. Manuscritos de Newton , sobre Alquimia.
Também o Anglo-Irlandês Robert Boyle, em que pese ser Cético e Racional, BOYLE, R.; CADWELL, J.; CROOKE, J (Editores Originais) SHIMMIN, R.; CANTONI, R (Coletores e Re-Editores) Projeto Gutemberg, 2007, reedição de “The Sceptical Chymist.”, Londres Inglaterra (1661).
Foi um dos iniciadores da Moderna Química, mas também praticou Alquimia! Considerado o primeiro Químico, ou o último Alquimista. Veja links: 36, 37, 38, 39, 40, 41, 42, 43, 44, 45. 46,
Há um interessante livro sobre os estudos Alquímicos de Boyle e de Newton. PRINCIPE, L.M.; NEWMAN, W.R.; OSLER, M.J. (Editor), “The Alchemies of Robert Boyle and Isaac Newton.” Editora Cambridge University Press, Cambridge, Inglaterra (2009).
Veja o interessante livro (reedição de 2010), do Alquimista Americano, nascido nas Bermudas, George Starkey. Ele cita Boyle, do qual foi Mentor.
Para nós, Químicos Modernos, uma transformação é decorrente de uma reação química. Na época da Alquimia, uma “Combinação” ou “Multiplicação”, Corpos Químicos “Se Combinam” (reagem, se diria, hoje). Mas tomado ao pé da letra, “Transmutação” seria um elemento químico ser “purificado”, “melhorado”, “multiplicado”, até se transformar em outro elemento.
Por exemplo, um metal comum, reativo, como chumbo, ferro…. se transforma em um metal chamado “Nobre” por ser estável, não reativo e inatacável, ou pouco atacável por ácidos, como prata ou ouro.
Veja o livro, atribuído ao Médico, Filósofo e Alquimista Polonês Michael Sendivogius, (era Rosacruz), mas outros autores atribuem o livro ao Alquimista Escocês Alexander Seton.
Seton foi mentor e professor de Sendivogius e ambos usaram o pseudônimo de “Cosmpolita”. Sendivogius usou sua influência e dinheiro para tirá-lo da cadeia, onde estava preso por mando da Igreja. Mas alguns autores afirmam que Seton foi realmente o autor de algumas das obras de Sendivogius. Veja SZYDLO, A.Z “Tese de Doutorado em Filosofia. “The Life and Work of Michael Sendivogius.” University College, University of London, Londres, Inglaterra (1991).
E que este último seria apenas um mistificador. E havia roubado as descobertas de Seton. Link 40. Mas há autores que afirmam qua a Vida de Sendivogius nunca se cruzou com a de Seton. Outros autores ainda afirmam que Seton é que era o impostor.
Sendivogius (ou Seton?) é um dos pioneiros da Química dos processos de purificação. Isolou e purificou muitos ácidos, bases, metais e compostos químicos. Link 36, Há várias etapas para se chegar à Perfeição e à Pedra Filosofal….
Para ele , o “Nitro”, o nitrato (ainda se usa para isso, fundir metais) e o “Ar Vital”, oxigênio gerado do nitrato, eram agentes capazes de dar “Vida” e purificar os metais. PORTO, P.V. Ambix, 48, 1 (2001) . Instituto de Química da USP (2001).
“By Help and Benefit of the Universal Agent, a certain sort of mineral multiplied according to te First term of multiplication and so exalted in their Virtue that it be able to Transmute many species yea all of them such are subalternate and to assimilate them according to proportion o greater inequality in infinitum, so that the last part of the agent , in a moment , convert and transmute an immense portion of each subjected species witch effect belongs only to the Lapis Philosophorum and it is the last term of the foresaid minerals multiplication….”
Tradução LIvre, do Inglês:
“Pela Ajuda e Benefício do Agente Universal, um certo tipo de mineral, multiplicado de acordo com o Primeiro termo de multiplicação e tão exaltado em sua Virtude, que é capaz de Transmutar muitas espécies, sim, todas elas são subalternas e assimiladas de acordo com a proporção de desigualdade maior ao Infinito, de “modo que a última parte do agente, num instante, converte e transmuta uma porção imensa de cada espécie submetida, cujo efeito pertence apenas ao Lapis Philosophorum e é o último termo da referida multiplicação dos minerais. ..”
Ele também é um dos primeiros a diferenciar elementos químicos, de substâncias simples e substâncias compostas (hoje, compostos).
SENDIVOGIUS, M.; DE BOSNAY, A. (Tradutor para o Francês e Autor de Adendo); PACARD, A. (Editor), “Cosmopolite ou Nouvelle Lumiere de la Physique Naturelle.” Paris, França, págs 24-28 (1618). Edição de (1691). Veja citação abaixo.
Ele analisou diversos metais, que considerou como corpos simples, formados no interior da terra, a partir de um “Ar” e de uma “Umidade”, mas criticava a análise e reconhecimento dos metais após agressivos ataques ácidos…. pois todos os metais seriam decompostos, dissolvidos e destruídos. Ele dizia ser preciso observar as pedras, os minerais, ao natural….
” Ansi, en la regeneration des metaux, les vulgaires Operateurs, y procedent mal, car ils dissoluent les corps metalliques, soit mercure, soit l’or, soit l’argent, soit plomb, Y les corrodent avec des eaux forts, et choses heterogenées et etranges non requises a la vraie science, puis apres consignant ses dissolutions, ou ne prenans pas garde que des pieces ou morceux d’un corps, et la destruiction de semence, chacune chose se multiplie au male e la femelle…”
Tradução Livre, do Francês:
“Assim, na regeneração dos metais, os Operadores vulgares, procedem mal, pois eles dissolvem os corpos metálicos, seja mercúrio, seja o ouro, seja a prata, seja o chumbo, e os corroem com águas fortes, e coisas heterogêneas e estranhas, não requeridas pela verdadeira Ciência, consignando suas dissoluções e não se dando conta de que agora, são apenas peças, ou pedaços de corpos, sem nenhuma coisa que se multiplique em macho e fêmea…”
Sendivogius também foi o primeiro a reconhecer o ar como uma mistura e contendo um princípio, um alimento, espírito volátil e necessário à Vida Link 39, (seria o Oxigênio, observado muito antes, 170 anos antes de Scheele, Priestly ou Lavoisier) . Grażyna Stasińska, Astrofísica do Observatório de Paris, Pós-Graduação da Universidade Federal de Santa Catarina. Seminário (2012). Links: 6, 7, 8, 9
Para os Alquimistas, o ouro não era “Nobre” só por ser raro e caro, mas também por ser “evoluído”, melhorado, estável e pouco reativo, e próximo de uma “Perfeição”.
Em Física e Química Modernas, verdadeira “Transmutação” só se dá por Fusão ou Fissão Nucleares, Transmutação nuclear, onde o núcleo de um elemento químico é alterado. Links 1, 2.
Mais há mais um outro ponto capaz de causar polêmica… Segundo o Engenheiro e Cientista Francês Corentin Louis Kervran , link em Francês, as transmutações entre elementos químicos ocorrem em meio biológico vivo, e espontaneamente. O fenômeno foi até investigado pelo exército Americano. Veja GOLDFEIN, S. “Energy Development From Elemental Transmutations in Biological Systems.”. Research and Development Command, US Army, Belvoir, Virginia, EUA(1978).
3. FITTICA E SEUS EXPERIMENTOS:
No final do Século XIX, viveu um Químico em Marburg, Alemanha, Holandês , mas naturalizado Alemão, Friedrich Bernhard Fittica , um crítico das Teorias de Kekule, Bayer e sobre os compostos aromáticos e sua isomeria, bem como crítico da existência dos elementos químicos simples , hoje “Elementos da Tabela Periódica”. Conceito reportado por Berzelius. Link 10 .
Veja que, não acreditando nas estruturas propostas para o benzeno, ele cometeu erros em Química de Aromáticos. Ele afirmava ter obtido um segundo isômero do monobromobenzeno. FITTICA, F. Ber. Dtsch. Chem. Gessel. 23, 1398 (1890). Também preconizava a existência de quatro ácidos nitrobenzóicos diferentes, e não três, orto, meta e para. FITTICA, F. J. Prakt. Chem. 17, 184 (1878).
Mas Fittica devia ser competente, visto que pertencia ao Grupo de Pesquisa do famoso Químico Alemão Adolph Wilhelm Hermann Kolbe , ROCKE, A.J., Osiris, 8, 53 (1993) , descobridor da dirigência orto, meta e para , do benzeno, e da síntese do ácido salicílico. 36 . ROCKE, A.J. “The Quiet Revolution. Herman Kolbe and the Science of Organic Chemistry.” Editora, University of California, Berkeley e Los Angeles, EUA, Pág. 391 (1993).
Mas hoje, Fittica está totalmente esquecido, assim como seus experimentos, mas por ser uma pretensa “Transmutação”, realizada por procedimento químico puro, isso torna o assunto muito interessante para estudos da História da Química. Por essa razão, publico este Artigo.
FITTICA, F. “Uber Einige Besondere Benzol Derivate.” Tradução Livre do Título: “Sobre Alguns Derivados Especiais do Benzeno.” Tese de Habilitação para Docência, Faculdade de Filosofia da Universidade de Marburg, Alemanha (1876). FITTICA, F. Justus Liebig’s Ann. Chem. 172, 303 (1874).
Como já dito, ele está totalmente esquecido, mas para ver algo sobre Fittica, veja: GUARESCHI, I.; PAGANELLI, C. (Revisor e Editor). BARBERI, A. (Editor); ALBERTI, P.; RIGUI, C. (Edição Eletrônica), , E-Book, “Jöns Jacob Berzelius e la Sua Opera Scientifica.” Editora: Editrice Torinese, Turim, Itália, Pág 159 (1915). Links 11, 12. LADENBURG,A. “Theorie der Aromatischen Verbindugen” . Tradução Livre do Título: “Teoria dos Compostos Aromáticos.” Editora Druck und Verlag Von Friedrich Vieweg und Sohn, Braunschweig, Alemanha, Pág. 13 (1876).
Fittica acreditava que por exemplo, o arsênio, não era um elemento químico, e sim um composto de fósforo, nitrogênio e oxigênio.
Em 1900, Fittica reportou ter transformado o elemento Fósforo em Arsênio, reagindo fósforo vermelho amorfo com nitrato de amônio. Uma “Transmutação”! FITTICA, F. Chem. Zeit. 24, 483 (1900). MODDERMAN, R.S.T. Album Der Natuur, 50, 15 (1901).
Também visto em BELTZER, F.J.G. “La Chimie Industrielle Moderne.” Editora Sócieté D’Editions Techniques, Paris, França, Vol. 1, Pág 389 (1911). Documento gentilmente digitalizado pela Biblioteca Numérica de Lyon, Lyon, França. Tenho os dois volumes desse livro.
Depois, Fittica publicou outros trabalhos, transformando fósforo também em antimônio. Veja a Coletânea de trabalhos feitos em Marburg, citado por MEINEL, C. Pág. 545 (1978).
4. CONTROVÉRSIA:
O desafortunado Fittica foi ridicularizado pela escola química Francesa, e até pelo público leigo em Química! Até em jornais comuns. veja links 33 e 34. e GAUTIER, E. “Le Petit Journal“, Paris, França (1900).
Em particular, críticas vinham principalmente do Químico Alemão Clemens Alexander Winkler . WINKLER, C. J. Phys. Chem. 5 , 81 (1901). WINKLER, C. Ber. Dtsch. Chem. Gessel., 33, 1693 (1900). Ele clamava que Fittica havia trabalhado com uma amostra impura de fósforo, e que esta continha arsênio.
Por exemplo, segundo outros Químicos, se tratava de uma amostra impura, NOELTING, E.; FEUERSTEIN, W. Ber. Dtsch. Chem Gessel, 33, 2684 (1900), ou da formação de uma variedade alotrópica de fósforo. SCHENK, R. Ber. Dtsch. Chem,. Gessel. 36, 979 (1903).
Veja também, impureza, pois conhece-se que fósforo comercial pode conter arsênio…”Notes in Inorganic Chemistry.”, em Science, 147 (1900). SCOTT, A. J. Chem. Soc. Trans. 77, 651 (1900).
Mas havia outros Químicos que consideravam a Transmutação de Fittica, digna de crédito, ou pelo menos, de ser estudada, mesmo defendida em revistas conceituadas. BASKERVILLE, C. Science 19, 88 (1904). BASKERVILLE, C. Science, 14, 165 (1901) , SADLER, S.P. Am. J. Pharm. 343 (1900). SURYA, G.W (1908). VÁRIOS AUTORES, Science, 14, 167, 985, 1018, 1019 (1901). Veja também VÁRIOS AUTORES, Chemical News and Journal of Physical Science, 81-82 , 210, 211, 320 (1900). J.H.L., Science, 731 (1900). GYZENDER, C.R. Chem. News J. Ind. Scienc. 82, 210 (1900), Localizado com Scifinder, mas Referência primária não achada. BELTZER, Item 3, Loc. Cit. (1911).
5. O PROVÁVEL ERRO DE FITTICA:
Especulo sobre o produto obtido por Fittica, em seus experimentos. Digo “especulo” porque não tenho acesso no momento, a fósforo elementar, nem branco, nem vermelho, por isso, não posso reproduzir seus experimentos. Mas arrisco uma possibilidade, uma explicação.
É conhecido que nitrato de amônio sólido, funde e se decompõe , e essa decomposição forma gases, que podem fazer elevar a pressão no frasco de reação ou mesmo, ao esfriar e cristalizar a massa fundida. BROWER, K.R.; OXLEY, J.C.; TEWARI, M. J. Phys. Chem. 93, 4029 (1989).
Pela elevação da pressão, ou mesmo pelo aquecimento e resfriamento rápidos, veja abaixo, Fittica pode ter obtido, não o Arsênio elementar, e sim uma variedade alotrópica de Fósforo, chamada “´Fósforo Preto“…
Aliás, uma reação entre fósforo e gás amônia e depois ácidos, havia sido feita, antes de Fittica , poucos anos antes , pelo Farmacêutico e Químico Suiço Friedrich August Flückiger . FLUCKIGER, F.A. Archiv. Pharm. , 230, 2 (1892).
Semelhanças de reatividade entre fósforo e arsênio já haviam sido notadas, mesmo antes de Fittica. UELSMANN, H. Archiv Pharm. 149, 138 (1859).
Isso foi também observado (e pela posição na tabela periódica) , a muitos anos, pelo grupo de pesquisa do meu Orientador. Fósforo é “quase semimetálico” e o Arsênio é “quase um ametal”. Observações de MILLER, J.; TOSCANO, V.G.; FEDERMAN NETO, A.; ARRUDA CAMPOS, I.P. (1982), baseadas em HORNER, L.; BECK, P.; TOSCANO, V.G. Chem. Ber. 94, 1317 (1961).
Apesar disso, não podemos generalizar. Pois o fósforo é um ametal, enquanto o arsênio é um metalóide, um semimetal. Mas até pela posição na família periódica do nitrogênio, são próximos.
Fluckiger chegou a imaginar que o produto fosse Arsênio, mas verificou tratar-se, sim, de Fósforo Preto. Aparentemente, Fittica não conhecia o trabalho de Fluckiger.
Fittica pode ter confundido os dois elementos, pela semelhança do aspecto! . Para entender o que pode ter acontecido, Leia o Item 7, Complemento, abaixo,
Na imagem abaixo, à esquerda, o Arsênio Elementar. Compare com a Imagem de uma amostra de Fósforo Preto. À direita. Não é possível colocar diretamente aqui a imagem, pois ela é protegida por Copyright. Veja HQGraphene. Mas achei outra Imagem utilizável. Fonte da Imagem: Taizhou Sunano New Energy Co. Ltd, China.


6. COMPLEMENTO. ALOTROPIA. FORMAS ALOTRÓPICAS DO FÓSFORO. DESCOBERTA E OBTENÇÃO DO FÓSFORO. HISTÓRIA DO ELEMENTO FÓSFORO:
Alótropos, formas alotrópicas, ou variedades alotrópicas.
Diz-se, quando um mesmo elemento químico possui mais do que uma forma estrutural de substância simples. de idêntica (ou muito semelhante) composição química.
Exemplo, Oxigênio (O2) e Ozônio (O3) são alótropos. Links: 13, 14, 15 . Carbono amorfo, carvão, grafite, diamante e fulereno são Alótropos. 16, 17, RIBEIRO, M.S.; KIILL, K.B. Educ. Quím. Punto Vista, 7, 1 (2023).
Alotropia, Formas Alotrópicas, são termos definidos pelo Médico e Químico Sueco Jon Jacob Berzelius. BERZELIUS, J.J. Jahresberichte, 20, 7 (1841). Link 18, em Sueco.
É um caso particular de Isomeria. JENSEN, W.B, J. Chem. Educ. 86 , 838 (2006).
Para o elemento fósforo, conhece-se algumas formas alotrópicas. Fósforos Branco, Vermelho e Preto. FOGAÇA, J. (2023).
O fósforo foi descoberto pelo Alquimista Alemão Hennig Brandt em 1669, na forma de fósforo branco, uma substância simples que queima espontaneamente em contato com o ar. O processo original partia da urina, o que é difícil e muito caro.
Passou-se a empregar minérios de fósforo ou sais, fosfatos, como materiais de partida. Muito mais fácil.
O fósforo branco foi depois estudado e fabricado por vários outros Alquimistas e Químicos, dentre eles o Sueco-Alemão Johann Von Lowenstein Kunckel e o Anglo-Irlandês Robert Boyle. E outros: KRAGH, H. “Phosphor and Phosphorous in Early Danish Natural Philosophy.” Editora Royal Danish Academy of Sciences and Letters. Copenhagen, Dinamarca (2003). KUNCHEL, J.V.L. ” Öffentliche Zuschrift Von Dem Phosphor Mirabil .” Tradução automática do Título em Alemão Arcaico: “Documento Público sobre o Admirável Fósforo” (1678).
Processos menos antigos para fazer fósforo branco: CANTON, J. Phil. Trans. Roy. Soc .London 58, 337 (1758). BOUTTATZ, F. “Uber den Phosphor als Arzneymittel.” Tradução Livre do Título: “Sobre o Fósforo como Medicamento.” Gottingen Alemanha e Londres, Inglaterra (1800) .
Interessante citar o trabalho (entre outras coisas, produziu e estudou a combustão do fósforo) de uma pioneira, uma das descobridoras da Catálise, Redução Química e da Fotoredução, (século XVIII), hoje esquecida. A Química Escocesa Elisabeth Fulhame.
FULHAME, E.; COOPER, J. (Editor),“An Essay on Combustion.” , Londres, Inglaterra , Págs 41-45, 51-62 (1794) . Links: 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25. NUNES, F. (2019). STEINMARK, I.E. (2019). PALMER, B. (2008).
Interessante salientar que Fulhame rejeitava o Flogisto de Stahl e Becher, mas também não aceitava as Teorias Antiflogistas de Lavoisier e de Berzelius.
Uma excelente revisão, “Review”, sobre a descoberta e a fabricação do elemento fósforo e suas formas alotrópicas. BERTRAND, G. Chem. Rev. 94, 1161 (1994).
O “Fósforo Branco”, quando exposto a pouco ar, ou fabricado com pureza industrial ou técnica, fica amarelado. É o chamado “Fósforo Amarelo”. MINDUBAEV, A.Z. Et Al. Russ. J. Inorg. Chem. 66 , 1239 (2021).
Não é fácil manipular fósforo branco em laboratórios pequenos. Ele é difícil de comprar, pirofórico (precisa guardar sob água) e é muito venenoso!
Como vimos, o fósforo branco foi descoberto em 1669.
,A forma alotrópica mais conhecida e (hoje comercial), é o “Fósforo Vermelho”.
Ao nível do meu conhecimento, pelo que me consta, ele foi observado pela primeira vez pelo Médico ,Alquimista e Filósofo Natural Alemão Friedrich Hoffmann . HOFFMANNI, F.; ZEITLERUM, C.A. (Editor), “Demonstrationes Physicae Curiosae.“, Magdeburg, Alemanha, Págs. 16, 19 (1700). Ele se formava ao atritar fósforo branco, antes da queima.
Mas o fósforo vermelho ( estável e não pirofórico) é obtido do fósforo branco, fechado em um frasco, ou coberto por água, e exposto a luz do sol. Ou por aquecimento do fósforo branco, na ausência de ar.
Isolado puro pela primeira vez (entre 1847-1851) pelo Médico, Químico e Mineralogista Austríaco Anton Schrotter Von Kristelli. KOHN, N. J. Chem. Educ. 21, 522 (1947). SCHROTTER, A. J. Prakt. Chem. 51, 155 (1850). SCHROTTER, A. Compt. Rend. Hebdo. Seanc. Acad. Scienc. 31, 158 (1850). SCHROTTER, A. “Uber Einen Neuen Allotropischen Zustand Des Phosphors. ” Tradução Livre do Título: “Sobre Uma Nova Variedade Alotrópica Do Fósforo.” Editora, Academia de Ciências de Viena, Viena, Áustria (1848). SCHROTTER, A. J. Prakt. Chem. 52, 162 (1851)
Outros polimorfos, formas alotrópicas de fósforo, metálico, escarlate e violeta. ROTH, W.L.; DeWITT, T.W.; SMITH, A.J. J. Am. Chem. Soc. 69, 2881 (1947).
Cumpre agora falar do “Fósforo Preto”, o que é mais importante para este artigo….
Ele foi descoberto pelo Químico Francês Louis Jacques Thenard , esfriando rapidamente o fósforo branco fundido. BLONDOT, D. Am. J. Pharm. 385 (1865). THENARD, L.J. Ann. Chem. Phys. 81, 109 (1812).
Mas se sabe que pode ser preparado de outras maneiras, Links 29, 31, por exemplo, submetendo fósforo branco ou vermelho a uma pressão, ou a uma temperatura alta e resfriamento rápido. Link 32 ,HALL Jr., C.H. J. Am. Chem. Soc. 45, 67 (1923). WISNIAK, J. Indian J. Chem. Tech. 12, 108 (2005). Pressão que pode ser exercida pela dopagem com um metal fundido e resfriado. Ou mesmo, em pressão ambiente em solução de etilenodiamina.
Nos dias atuais, se sabe que basta triturar muito fortemente (Mecanossíntese) o fósforo vermelho, para que ele se converta em Fósforo Preto. Ou trituração em solvente, aquecimento e/ou resfriamento controlado. ZHOU, F. Et Al. J. Alloys Comp. 784, 339 (2019). BAI, K. Et Al. J. Power Sources 456 , 228003 (2020). Métodos para fazer fósforo preto. Links: 26, 27, 28,
7. OUTRAS PRETENSAS “TRANSMUTAÇÕES”:
Há outras pretensas “Transmutações” descritas.
Entre 1895 e 1897, o Engenheiro de Minas Americano Stephen S. Emmens afirmava ter transmutado prata em ouro. GADDIS, V.H (1997). KAUFFMAN, G.B. Endeavour 7 , 150 (1983). J.McK.C. Science, 5, 324 (1897). SCHWARTZ, A.T.; KAUFFMAN, G.B. J; Chem; Educ. 53, 235 (1976). KAUFFMAN, G.B. Ambix, 30, 65 (1983). EMMENS, S.H. Science, 7, 386 (1898). KAUFFMAN, G.B. Gold Bull. 16, 21 (1983).
Ele se correspondia, e enviou amostras, a um Famoso e muito Sério Cientista, o Químico e Físico Inglês William Crookes , o mesmo dos tubos de Raios Catódicos e dos Raios-X.
Mas este o refutou. Emmens dizia que Crookes o havia comfirmado, mas este último o acusava de ter manipulado (a seu favor) os resultados de seus experimentos. Emmens o contradisse, dizendo que Crookes partira de prata pura demais, o que não funcionava… TRIMBLE, R.F. J. Chem. Educ. 57, 645 (1980).
Mas Crookes nunca entrou direto em polêmica com Emmens, Em todo o caso, mesmo rechachando a “Transmutação”, Crookes permaneceu até sua morte, interessado nos experimentos de Emmens. BROCK, W.B. Bull. Hist. Chem. 12, 30 (1992).
Em todo o caso, os experimentos de Emmens eram considerados de reprodutibilidade problemática e difícil explicação. BOLTON, H.C. Science, 6, 853 (1897).
Uma alegada transmutação do carbono em silício, foi reportada, em 1841, durante estudos sobre os cianogênios, pelo Químico Escocês Samuel Morison Brown. BROWN, S.M. Trans. Roy. Soc. Edin. 15, 165 (1841) . Veja também nesse texto, págs.: 167, 229, 230-246, 340, 547-559, 723, 726.
Essa transmutação é inclusive citada em um livro: PEREIRA, J. (Autor); LEE, C.L. (Editor); ” A Treatise of Food and Diet…” Editora J. & H.G. Langley, New York Págs: 2 e 3 (1843)
Era considerada digna de crédito, e a ser investigada, inclusive pelo pioneiro da Fotografia, o Inglês William Henry Fox Talbot e o Astrônomo, Físico estudioso da luz e Compositor Alemão, naturalizado Inglês, John Frederick William Herschel . Veja a carta de: TALBOT, W.H.F. para HERSCHEL, J.F.W. (1841).
Mas tal transmutação foi desacreditada e refutada por outros autores: BRETT, R.H.; SMITH, J.D. Lond. Edin. Dub. Phil. Mag. J. Scienc. 19, 295 (1841). Outro link. Outro. SMITH, J.D.; BRETT, R.H. Ibid. 20, 24 (1842). WILSON, G.; BROWN, J.C. Proc. Roy. Soc. Edin. 15, 468 (1844). WILSON, G.; BROWN, J.C. Proc. Roy. Soc. Edin. 15 , 547 (1844).
Entretanto, seu autor a defendia. BROWN, S.M. Lond. Edin. Dub. Phil. Mag. J. Scienc. 19, 388 (1841). BROWN, S.M. Trans. Roy. Soc. Edin. 15 , 229 (1844). BROWN, S.M. Trans Roy. Soc. Edin. 15, 165 (1844).
8. RESUMO , OBSERVAÇÕES E CONCLUSÃO:
Neste artigo, comentando sobre uma pretensa “Transmutação” Fósforo em Arsênio, por via química pura, feita por Fittica em 1900. E algumas outras transmutações citadas.
Fittica hoje, está totalmente esquecido, assim como seus experimentos. No entanto seus trabalhos são interessantes para estudo de História da Química.
Especulo que o produto obtido por Fittica devia ser Fósforo Negro, uma variedade alotrópica do fósforo, que ele confundiu com o Arsênio. Há alguns reportos antigos em literatura, até antes de Fittica, que parecem corroborar minhas especulações.
Porque tantos Químicos, mesmo modernos, relutavam em questionar as Transmutações? A resposta está na Filosofia Natural…. Conseguir uma Transmutação verdadeira, por meios simples, é o sonho antigo e muito visionário, quiçá impossível, dos Alquimistas e dos Químicos!
O próprio Químico da tabela periódica, o Russo Dimitri Ivanovich Mendeleev, não descartava a possibilidade da Transmutação… POLIAKOFF, M. “The Net Advances of Physics. Retro WebLog.” (2013).
Observação 1 – Em Inglês, o elemento químico “Arsênio” é chamado “Arsenic” Mas lembre que em Português do Brasil, “Arsênico” é o conhecido veneno, o trióxido de arsênio. As2O3. Portanto, Arsênico é o veneno e Arsênio é o elemento químico.
Observação 2 – A referências bibliográficas deste artigo foram obtidas usando os protocolos descritos nestes métodos.

