
Autoria: Alberto Federman Neto, AFNTECH.
Revisto e Ampliado em: 25 de Outubro de 2023.
Neste pequeno Artigo, falo sobre um assunto pouco abordado na Internet e na literatura.
As mudanças decorrentes da modernização dos produtos Químicos e Reagentes, especialmente no que se refere à sua concentração e qualidade, além de uma breve História da Indústria Química no Brasil.
A imagem que ilustra este Artigo. Frascos de reagentes químicos que pertenceram à “Escola Comercial Veiga Beirão” em Lisboa, Portugal. Fundada em 1919 e extinta em 1997. Os rótulos ainda estão escritos manualmente, possivelmente com tinta nanquim.
Fonte da Imagem, COBB, K., Site Resilience, Post Carbon Institute, e Blog Resource Insights, (2021) e Museu Nacional de História Natural e de Ciência da Universidade de Lisboa. Lisboa, Portugal. Foto original por: Xliber, Wikimedia.org (2014).
Os produtos químicos mudaram nos últimos 10 ou 20 anos, em relação ao período no qual eu comecei a estudar Química, no Liceu Eduardo Prado, nos anos 70. Este Artigo trata disso. Além de sumarizar a História da Indústria Química, no Brasil.
1, BREVE HISTÓRIA DA QUÍMICA E DA FABRICAÇÃO DE PRODUTOS QUÍMICOS, NO BRASIL:
A indústria de produtos químicos praticamente se inicia na Alemanha, com o Apotecário, Farmacêutico,, Alquimista e Químico, autodidata Alemão/Holandês Johann Rudolf Glauber . Ele descobriu a reação de neutralização ácido-base, e o sulfato de sódio, “Sal de Glauber“. “Salis Mirabilis”
Ele teve a ideia de fabricar vários produtos químicos e medicamentos em grande escala, para vender, como o próprio sulfato de sódio, os ácidos sulfúrico, links 3, 4, clorídrico (a partir do sal) e nítrico (a partir do salitre), link 2, ácido acético, chamado ácido pirolenhoso (do vinagre e por destilação da madeira), produtos orgânicos etc…
É considerado o primeiro “Engenheiro Químico”. Link 1. E o iniciador, fundador, da “Química Industrial”.
Expôs seus trabalhos, procedimentos e equipamentos, em muitas obras, mas principalmente em três livros, mas para manter segredo industrial, não os detalha em demasia. Veja: GLAUBER, J.R.; PACKE, C. (Tradutor); MILBOURN, T. (Impressor); NEWMAN, D. (Comentarista). “The Works of the Experienced and Famous Chemist John Rudolf Glauber.”, Londres, Inglaterra, edição de (1689).
1. GLAUBER, J.R,; JANSSONIUM, J. (Editor) “Tractatus de Natura Salium.” Tradução automática e livre do título: “Tratado Sobre a Natureza dos Sais.” Amsterdã, Holanda (1659). Edição de (2018). 2. GLAUBER, J.R.; JANSSONIUM, J. (Editor) “Novum Lumen Chymicum.” Tradução automática do título “Nova Luz Sobre a Química.” Amsterdã, Holanda (1664). 3. GLAUBER, J.R.; JANSSONIUM, J (Editor), “Furni Novi Philosophici.” Tradução automática do título: “Novos Fornos Filosóficos.” Edição de (1658). Tradução em Alemão, do quinto volume (1652).Edição de (1651).
Em que pese seu fantástico e genial trabalho, Glauber morreu doente (envenenado por metais pesados), e falido. GOEDCKE, C. (2020).
A indústria química na Europa, começa a se modernizar após 1740, (link em Alemão) com a fabricação de ácido sulfúrico.

A Figura acima, mostra antigos frascos de reagentes e produtos químicos, do início do século XX. Link da Figura. Alguns preparados, e outros fabricados na Alemanha e na França, pela Poulenc et Frères, São anteriores a 1928, pois esta fábrica fechou nesse ano. Fonte da Imagem: Blog Lisboa S.O.S, citando (2009), o Museu de Ciência da Universidade de Lisboa, “Laboratorio Chimico da Escola Polytechnica de Lisboa”, Lisboa, Portugal.
No Brasil, a preparação e venda de produtos fitoterápicos e medicamentos vegetais em pequena escala, começa no século XIX, em farmácias do Rio de Janeiro com o Farmacêutico e Naturalista Alemão Theodor Peckolt. Veja Peckolt, Thoedor, “Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil.” FIOCRUZ. SANTOS, N.P. Hist. Ciênc. Saud. Manguinhos, 12, 515 (2005).
Mas os cursos de Química só apareceriam em 1934, em São Paulo, desenvolvidos pela influência do Político e Matemático Brasileiro Teodoro Augusto Ramos . Os primeiros Químicos Europeus vieram para o Brasil, e fundaram o curso de Química da Escola Politécnica, e o Instituto de Química da USP, com os Químicos Alemães Heinrich Rheinboldt e Heinrich Hauptmann. ALMEIDA, M.R.; PINTO, A.C. Ciência e Cultura, 63, 41 (2011).
Entretanto, havia um pouco de Pesquisa Científica, Ensino e Indústria Química no Brasil, principalmente siderurgia, ainda no século XIX, mas realizada por Europeus ou descendentes Europeus. Veja o interessante e detalhado Artigo de FILGUEIRAS, C.A.L, Ciência a Cultura (2022). Veja também OLIVEIRA, L.H.M; CARVALHO, R.C. Revista Ponto de Vista, 3, 27 (2011). MENDES, I. (2023).
Várias indústrias Químicas se instalaram no Brasil, a partir da segunda década do século XX. Eram dos ramos de Petróleo, Tintas e Vernizes, Solventes, Adesivos, Produtos Farmacêuticos etc… Exemplos, a Rhodia en 1919, a Dupont em 1943, a Shell em 1922, a 3M em 1946 etc…
Com os produtos farmacêuticos, o valor agregado aumenta, o que levaria à “Química Fina”, e à fabricação de corantes têxteis e para microscopia, e reagentes, mas o termo “Química Fina”, QUEVEDO, R.T. (2016). OLIVEIRA, N.B. Quím. Nova, 28, S79 (2005), ainda não é usado, só se popularizando entre os Químicos nos anos 80. COMASSETO, J.V.; SANTOS, A.A. Revista USP, 76, 68 (2007-2008). MACEDO, B.(2020).
A importação indiscriminada e barata de produtos químicos elaborados, de alto, médio e até, pequeno valor agregado, principalmente produtos oriundos da China e da Índia, “matou” nossa indústria de Química Fina, e a levou a um sucateamento. Links 5, 6, 7, 8 Somente 7 % era importado, em 1990, passando a 30 % em 2012, 34 % em 2013, 38 % em 2017, e em 2022, 40 % . e hoje, possivelmente mais.
O grande problema disso é a perda de competitividade e a não geração de muitos empregos para nossos Químicos Brasileiros. Mas soluções são estudadas. MÁS, R. Bain & Company (2021).
Entretanto, alguns autores discordam, afirmando que o faturamento da indústria química Brasileira cresce ano a ano. SILVA, N.R.; ASSIS, A.J. (Orientador) “Indústria Química no Brasil.” Trabalho de Conclusão de Curso de Engenharia Química, Universidade Federal de Uberlândia, M.G. (2018). ABIQUIM (2012). GALEMBECK, F. Et Al. Quím. Nova, 30, 1413 (2007).
2, PRODUTOS QUÍMICOS NO BRASIL:
Em São Paulo e No Brasil, já haviam algumas fábricas de produtos químicos, a partir de 1910.
Me lembro de algumas marcas de produtos, os quais cheguei a usar muito: Elekeiroz, “Sociedade de Productos Chimicos L. Queiroz, imagem. Usina Colombina, Atualmente extinta. Ciba-Geigy (corantes). QEEL, Reagen, Rhodia de Santo André, atual Solvay. Companhia Nitroquímica Brasileira, atual Nitro. Ecibra, atual Cetus,
Duas Farmácias de São Paulo vendiam varejo de produtos químicos, a Botica Veado D’Ouro e a Drogasil, hoje Rede Drogasil–Droga Raia.
Eu também comprava produtos Químicos em São Paulo, na B. Herzog, que agora fica no Rio de Janeiro, atual revenda Chepplier. e também no bairro de Santo Amaro, na extinta Galvanização Del Nero.
Meu avô e meu pai compravam na quase centenária, hoje extinta Casa Moser. Fundada em 1912, encerrou suas atividades em 2011, vendendo seus últimos saldos de vidrarias. Havia também a Casa Fretin, (1895, ampliada em 1924) mas era mais voltada para relojoaria, ótica e material médico e cirúrgico.
Algumas lojas relativamente antigas de artigos para laboratórios, são hoje, muito tradicionais e clássicas: a CAAL – Casa Americana (1964) e a Casa da Química, CAQ (1959).
Alguns produtos químicos eram importados pelo Brasil, ou nacionalizados, Firmenich, Givaudan, Kodak, Agfa, (companhia Belga Agfa Gevaert) Hoescht, Croda, Walter Heyne. Lachema Byrno. BDH,
3, PRODUTOS QUÍMICOS ANTIGOS:
Ainda menino, tomei contato com a Química. Meu avô era Químico.
Os produtos químicos, sólidos, como sulfato ferroso, enxofre, sulfato de cobre, ácido tartárico, gomas adraganta e arábica, breu etc… principalmente com grau de pureza industrial, vinham armazenados em pequenas barricas de papelão grosso e cola, de 500g ou 1 Kg,
Se apresentavam em em grandes pedaços, “pedras”, ou cristais grandes. Isso porque, na recristalização, a solução era resfriada em tanques sem agitação, e o sólido era “quebrado” em pedaços, após escoar a água mãe do tanque. Infelizmente, não consegui achar nenhuma foto para mostrar como eram esses reagentes dos anos 20 e 30.
Já os reagentes puros e P.A, eram em sua maioria importados da Alemanha, França, Inglaterra ou Estados Unidos, e os reagentes sólidos e líquidos, vinham em frascos de boca larga ou garrafas, com rolhas de cortiça. Veja: AFONSO, J.C.; AGUIAR, R.M. Quím. Nova, 27, 837 (2004). Depois vieram os frascos com gargalo de rosca, e tampa metálica de alumínio.
Principalmente anos 20-30, mas até antes, e mesmo depois, tampa de rosca de baquelite eram observadas. (anos 40 a 60 ou 70). Eram frascos ótimos, quando vazios, eu os uso para estocar outros reagentes.
Exemplos. Neste link, frasco francês antigo de sulfato de quinina, com tampa de alumínio. Século XIX. Neste outro Link, vários frascos antigos de corantes, com tampas de baquelite. .Todos são reagentes de fabricação Americana, várias marcas. Neste outro link, vários produtos químicos usados em Farmácia, estocados em frascos antigos. Tampa de Baquelite também pode ser observado neste frasco de corante fabricado na Inglaterra.
Mais um link, frasco com tampa de baquelite, de ácido cítrico com ácido ascórbico. Era uma maneira de administrar vitamina C em Farmácia, antes de existirem os comprimidos efervescentes. Fabricação da Pfizer, New York, EUA.
A data do frasco não é conhecida, se supõe ser dos anos 60 a 80, mas certamente mais antiga, pois esse tipo de medicamento não se usava mais nos anos 60.
Outros autores supõe ser de 1849. Não pode ser, porque a Vitamina C não havia sido descoberta, só foi isolada em 1928. CARPENTER, K.J. Ann. Nutrer. Metab. 61, 259 (2012). A data mais provável do frasco é 1940 ou 1941.
Abaixo, garrafa antiga de álcool metílico. Usava rolha de cortiça.

4. MODERNIZAÇÃO E EVOLUÇÃO DOS PRODUTOS QUÍMICOS :
De 20 anos para cá,no Brasil, produtos químicos se modernizaram, devido à melhorias dos processos de fabricação. SCHMIDT, L.D.; SIDALL, J.; BEARDEN, M. AIChE Journal, 46, 1492 (2000). LESCH, J.E. (2000). Oxford Economics (2023). GALEMBECK, F. Loc. Cit. (2007).
Principalmente a concentração dos produtos químicos aumentou.
Por exemplo, quando eu estava no Colégio Técnico, nos anos 70, o ácido sulfúrico concentrado da Ecibra, QEEL, da Reagen etc…, tinha densidade de 66 ºBaumé . Corresponde a cerca de 93 %. Mas hoje, se encontra no comércio ácido sulfúrico de 96 % e até 98 %.
Um outro exemplo. A solução comercial, concentrada de amônia, chamada amoníaco, o antigo “hidróxido de amônio” (embora esse nome seja errôneo, e modernamente, deva ser evitado). No comércio era encontrada na concentração 25 %, mas hoje existe não só essa de 25 %, mas até de 28–30 %.
O ácido nítrico concentrado que se comprava nos anos 70 e 80 era de concentração 34-35 %. , 36 %. O máximo de 42 %. mas hoje se acha para comprar, ácido nítrico de concentração: 53 %, 65 %, 66, 5 %, 65-68 %, 60 %, 68-70 %, 69-71 %, 69-70 %. Até muito concentrado, 99,5 %, ácido nítrico fumegante. Até os anos 80, era preciso importa-lo, ou prepará-lo no laboratório.
Veja mais um exemplo, a água oxigenada, peróxido de hidrogênio. Era encontrada nas farmácias, nas concentrações 10, 20 ou 30 volumes (respectivamente 3, 6 ou 9 %). Em casas de materiais de laboratório, comprava- se a concentrada, de 100 volumes (30 %), chamada Peridrol® (esse é um nome agora, obsoleto).
Nos dias atuais, nas farmácias e perfumarias, acha-se até 40 volumes (12 %). e, nas lojas de produtos químicos e materiais de laboratório, acha-se a de 100 volumes, mas até 130 volumes (33-35 %) . E mesmo, a de 200 volumes (50–60). É comum achar, e em grande quantidade, usada para desinfetar, oxigenar e eliminar cloro e algas da água de piscinas.
Resumo, os produtos químicos melhoraram em concentração.
Também melhoraram muito em qualidade. Nos anos 70, era comum comprar carbonato de sódio nacional, de pureza industrial, de cor amarelada, impurificado com sais de ferro (III). O ácido clorídrico industrial, comercial, “Ácido Muriático”, também era sempre amarelo, devido a sais de ferro (III). Hoje, até pode ser amarelo, mas nem sempre o é.
E eu frequentemente, encontrava no comércio, ácido sulfúrico concentrado industrial, de cor acinzentada, e com um depósito de pó branco no fundo da garrafa. Esse precipitado branco era de sulfato de chumbo, porque ele tinha sido fabricado pelo obsoleto “Processo das Câmaras de Chumbo“. Hoje, usa-se muito mais o “Processo de Contato“.
Produtos Químicos foram modernizados e estão muito melhores. Mesmo a qualidade dos produtos químicos e farmacêuticos importados da China e da Índia e comercializados aqui, melhorou muito.
O número e a diversidade dos reagentes facilmente disponíveis no comércio brasileiro também aumentou muito.
Hoje , há muitos produtos embalados e rotulados no Brasil, nacionalizados, importados da Índia, da China e, menos frequentemente, dos Estados Unidos, da Inglaterra, França, Itália, Alemanha e Reino Unido e países da Europa do Leste. Eles são vendidos aqui como produtos nacionais.
Um exemplo simples. Encontra-se no Brasil, para comprar, cádmio metálico puro. Links: 9, 10, 11, 12, 13. Era uma raridade achá-lo, nos anos 60 a 80.
Mais alguns exemplos. Era quase impossível comprar tetrafenilborato de sódio , um precipitante e reagente para potássio, no comércio nacional, nos anos 70 e 80. Era preciso importá-lo da Alemanha, ou preparar (exige reagente de Grignard, não fácil nos laboratórios amadores ou pequenos). Agora tem, links 15, 16, 17, 18, 19, 20, embora seja reagente caro (pois difícil de fazer).
Mais um exemplo. o reagente para sódio piroantimoniato de potássio. Quando eu estudava no colégio técnico de Química Industrial, nos anos 70, o laboratorista do colégio e o professor precisavam prepará-lo, por um processo trabalhoso . Envolvendo fusão em cadinho, pirólise. Não se conseguia comprar, nem importado. Agora tem no comércio nacional, veja no meu Artigo, Item 7, sobre precipitantes para sódio. Links 21, 22, 23, 24, 25.
Minha opinião como Químico, produtos químicos atuais, no Brasil. Eles são facilmente encontrados no comércio para serem comprados, são de boa qualidade e confiáveis agora.
Eu tenho usado sem problemas.

